A viagem
pro Marrocos já começou me impressionando, não fazia ideia que o estreito de
Gilbraltar fosse tão estreito. Do avião então, a distancia era minúscula.
Chegamos
primeiro em Casablanca, fizemos uma conexão e fomos pra Marrakesh. Logo na
saída um taxista, mandado pelo hostel, já esperava por nos, e não demorou muito
para perceber como o transito de lá é louco. Estávamos numa avenida, logo após
sairmos do aeroporto, e o taxista pede licença, e para o carro no meio da faixa
da direita, porque precisava fazer uma ligação no celular. Mas logo iriamos ver
que isso não era nada. Quando entramos na Medina, não existia mais praticamente
distinção entre rua e calçada, principalmente para as motos, que lá são aos
milhares. Isso porque eu morei grande parte da minha vida em São Paulo. Na
praça principal, que é bem grande e toda calçada, pessoas, carros e motos se
misturam, indo de um lado para o outro, em todas as direções, de uma forma bem
aleatória.
Descemos do
taxi e um outro rapaz prontamente pega as nossas malas. Foi tão rápido que até
nos assustamos. Mas era um cara do hostel, e ele foi nos mostrando os caminhos
pelas estreitas ruas da Medina, até o hostel. A primeira impressão não foi das
melhores, o hostel ficava em um beco, uma ruazela sem saída, estreita, e que
não tinha quase movimento algum. Assim que chegamos lá, um outro rapaz nos
ofereceu chá de menta, uma tradição marroquina, e depois foi nos mostrar o nosso
quarto. Embora o hostel fosse grande, ele não me agradou muito, o banheiro não
parecia dos melhores, um ficava em baixo de uma escada, outro tinha uma porta
que era da metade do tamanho do batente. A cama era pequena, e o quarto que eu
fiquei, no terraço, não era nada espaçoso.
Mas isso
tudo não passava de uma primeira mau impressão. No fim acabei achando aquele um
hostel incrível, e eu percebi como ele estava na verdade muito bem localizado.
O hostel ficava bem no meio da Medina, que é o equivalente a um centro antigo,
que tem um muro em todo o seu perímetro. A menos de 5 minutos de caminhada fica
a praça Jemaa el-Fna, a mais importante de Marrakesh. O pessoal no hostel era
bem simpático, toda vez que ficávamos um pouco sentados em um dos sofás, eles
vinham perguntar se queríamos um pouco de chá, e sempre faziam alguma
brincadeira. O prédio do hostel é um riad, que é uma casa típica marroquina.
Ela tinha dois andares, mais o terraço. O centro era aberto, mas coberto por
uma tenda, e lá ficavam vários sofás e mesas baixas. Era lá também que era
servido o café da manhã, muito bom por sinal, bem farto e o melhor que eu já comi
em um hostel; e aqueles sofás eram um ótimo lugar para conhecer pessoas novas,
um dia fiquei jogando cartas de noite com um pessoal da Nova Zelândia, dos EUA,
da Finlândia e da Coreia.
Na noite do
dia que chegamos já fomos conhecer a praça e comer alguma coisa. Vimos como as
coisas lá eram baratas, não tinha nem comparação com a França.
No outro
dia acordamos cedo para conhecer melhor Marrakesh. Fomos até o El Bahia, que
são vários riads ligados uns nos outros. Cada um tem um pátio interno, ao ar
livre na maioria das vezes, e normalmente com uma pequena fonte no meio. De lá,
andamos até o palácio El Badi, um antigo palácio, grandioso, que hoje esta em
ruinas, construído por um sultão.
Fomos
também até o Jardim Majorelle, uma obra de arte em forma de jardim, construído
primeiramente por Jacques Majorelle, e comprado mais tarde por Yves Saint
Laurent.
De tarde,
depois do almoço, passamos pela praça Jemaa el-Fna, a praça mais importante de
Marrakesh. Em um espaço aberto muito amplo, passam milhares de pessoas. A praça
sempre parecia estar cheia, tanto de dia como de noite. No meio, ficam varias
barracas, montadas sobre estandes, que vendem sucos de laranja deliciosos ou
varias caixas repletas de frutas secas, como amêndoas, castanhas e nozes. No
meio dessa exótica praça encontram-se vários tipos de pessoas, a maioria
vestida com aquela roupa típica berber, algo como uma capa, que cobre o corpo
inteiro. Não faltam adestradores de macacos, que fazem eles pularem nas
pessoas; malabaristas, que dão saltos incríveis; e encantadores de cobras,
tocando flauta com uma naja a poucos centímetros de distancia.
O barulho
constante das pessoas, e a musica ao fundo que não para nunca, é agravado em
certas horas dos dias. As várias mesquitas, que estão por toda a cidade,
possuem alto falantes em cima das suas torres, e em certos horários, eles
começam a gritar orações para que todos possam ouvir.
Aproveitamos
o final do dia para nos perdermos entre as ruazinhas do zouk, o gigante mercado
da região. Por incrível que pareça, mesmo depois de dobrar por varias ruelas e
nos perdermos bastante, acabávamos chegando de alguma forma na praça Jemaa
El-Fna.
No outro
dia bem cedo partimos em uma excursão até o deserto. Além de mim, do Daniel e
da Luiza, nos acompanharam uma família de canadenses, que eram muito
simpáticos, e o nosso guia. De carro, passamos pelo Atlas e tínhamos como
destino final Ouarzazate. O Atlas é uma cordilheira de montanhas a leste de
Marrakesh, e é bem alto. Passamos por lugares com bem mais de 2500 metros de
altitude. Mais tarde, quando estaríamos no deserto, era estranho sentir aquele
calor e estar no meio daquelas dunas, mas ver ao fundo a neve no topo das
montanhas do Atlas. Enfim, essa é a cordilheira que delimita o inicio do
deserto do Sahara.
A viagem
não é tranquila. A estrada fica fazendo ziguezague o tempo todo, e na parte de
cima da montanha é bem frio. Por todo o caminho pode-se ver vários vilarejos de
tribos berbers, que antigamente eram nômades, e que agora têm casas da cor da
terra que quase acabam se misturando com a paisagem. Mas o trajeto vale a pena,
e nos leva a paisagens maravilhosas.
Antes de
chagar a Ouarzazate, um pequeno desvio e passamos por um kasbah,
Ait-ben-Haddou. Para entrarmos nessa pequena fortaleza temos que passar por um
pequeno rio, que o guia diz, para nosso espanto, ser de agua salgada. Passamos
por entre aquelas casas, de arquitetura tão tradicional, para chegarmos ao topo
da colina onde fica esse kasbah. De lá, a vista é linda.
Foi ali
também que foram filmados vários filmes mundialmente famosos, como A Múmia,
Gladiador, Alexandre, e Príncipe da Pércia.
Chegamos
então em Ouarzazate, cidade também conhecida como a “Porta do deserto”.
Almoçamos por lá. Mas tarde pegamos a estrada de volta à Marrakesh.
No ultimo
dia completo que teríamos no Marrocos, fomos conhecer mais de perto a mosquita
de Koutubia, que tem a torre mais alta de Marrakesh. Não podíamos entrar,
porque a entrada só é permitida a mulçumanos. Aproveitamos para ir a um parque
ali perto, e para conhecer a parte de fora da muralha da Medina. Passamos em
frente ao palácio real, mas é proibido tirar fotos ali.
De tarde
passamos de novo pelos zouks ; sempre é uma experiência interessante passear
por lá. Esse mercado, um verdadeiro labirinto esparramado por varias ruas, a
maioria bem estreita, algumas um pouco mais largas, tem lojas seguidas de
lojas. Algumas são relativamente grandes, outras são apenas simples
barraquinhas. Mas o sangue de comerciante esta no povo, e eles fazem de tudo
para conseguir uma venda. A abordagem dos vendedores é constante. Eles chegam
falando inglês, se você não da bola eles falam em francês, depois tentam
espanhol, e até mesmo português ou italiano. E eles aprendem rápido. Uma hora,
estávamos andando e o Daniel chamou:
- Luiza ...
O vendedor
de uma lojinha na frente da qual passávamos ficou:
- Luiza !
Luiza ! Luiza ! ... – como um papagaio, até sumirmos de vista.
Comecei a
conversar com um vendedor, ele me perguntou se eu era Corinthiano, e quando
disse que era São Paulino ele começou a falar do Mundial de 2005, e sobre o
Liverpool da época. Fiquei de boca aberta que ele soubesse tanto assim. Depois
ele veio falar sobre um dos últimos gols que o Falcão fez. Nos dois concordamos
que o gol foi lindo.
E é
necessário muita cara de pau para negociar. Fomos, eu e o Daniel, comprar um
turbante. O vendedor disse que dois turbantes sairiam por 550 dirhams. Nos
fizemos uma contraproposta de 100 dirhams. Depois de um tempo de negociação,
ele disse que não faria por menos que 200. Dissemos que estava muito caro, e
começamos a ir embora. Ele nos puxa pelo braço, e faz outra proposta. No final,
nos e ele estávamos quase gritando, fechamos a compra por 160 dirhams, ele deu
um sorriso e até tirou foto com a gente.
Dia 30 bem
cedo, depois de quatro dias imersos nessa cultura completamente diferente, era
hora de ir embora. Pegamos o avião, e eu trouxe comigo memorias fantásticas, de
um dos lugares que mais me impressionou nas minhas viagens.
Como é bom viajar e conhecer outras culturas, não é mesmo?
ResponderExcluirÓtima experiência!
Valeu! Também gostaria de conhecer o Marrocos.
Abração,
Nelson
Nooossa... parece fantástico mesmo! Fiquei com vontade de conhecer Marrocos... e, ainda, ficar nesse hostel! :))
ResponderExcluirBeijos
Suleima