Me sentia
meio enganado. Não só eu, como quase todo mundo que mora no hemisfério norte. Era
meio de maio, estávamos no meio da primavera, e nada do tempo melhorar. Estava
saindo para trabalhar de sobretudo e malha, do mesmo jeito que eu sairia se
fosse no inverno.
No inicio
de junho esquentou um pouco, mas de lá para cá os dias vão se alternando.
Alguns fazem sol e um calorzinho, outros são chuvosos ou bem nublados e um
pouco frios. Mas no geral, finalmente tem ficado mais quente.
Morar no
coloc esta sendo bom também. No dia do amistoso entre Brasil e França, combinei
de ver o jogo com o Benoît, que é francês. Foi no mínimo engraçado. Outro dia
resolvi fazer brigadeiro Cheguei até a comprar granulado para fazer as bolinhas.
Mas mesmo sendo fácil de fazer, meus dotes na cozinha se superaram, e o
brigadeiro ficou bem mole. Estava muito bom, o pessoal gostou bastante, mas as
bolinhas estavam tão moles que elas meio que derretiam, e ficavam em forma de
um cilindro todo achatado.
Na Airbus,
fomos um dia visitar a FAL (linha de produção) do A380, o maior avião do mundo.
Esse avião é enorme, e olhar para ele, e pensar que algo daquele tamanho pode
voar, é meio inacreditável. Olhar quatro, um do lado do outro, sendo feitos os
ajustes finais, é algo de tirar o folego. E se esse avião é imenso, é
impossível descrever o tamanho do prédio da FAL. La dentro tudo é gigante, a
asa é enorme, os guindastes parecem que conseguem levantar um navio, e os flaps
das asas são tão grandes que parecem uma outra asa. Tudo é tão grande que as
pessoas parecem formigas perdidas ali no meio.
Mas algo
muito maior estava para acontecer, e eu tive muita sorte, de estar no lugar
certo, na hora certa. Na sexta, dia 14 de junho, foi o primeiro voo do mais novo
avião da Airbus, o inovante A350.
O projeto
do A350 começou a muito tempo e o primeiro voo é uma das etapas mais
importantes do projeto. É quando finalmente varias teorias e varias decisões
que foram feitas são finalmente testadas. E é algo muito raro de se ver. O
ultimo primeiro voo que teve, foi o do A380, isso no inicio dos anos 2000. Em
média, se tem um primeiro voo por década.
Nos últimos
meses, era notável a empolgação de todos com a chegada do primeiro voo. Mesmo
quem não trabalhava no projeto estava bem animado. Informações sobre cada etapa
que era concluída e novidades eram passadas de boca em boca, e conversas sobre
o assunto eram comuns durante o almoço ou nos corredores. O Thierry me disse
que normalmente, no dia D, todas as pessoas saiam dos prédios e iam para o lado
da pista, para ver o avião decolar. Que era algo bem único.
O mais
legal, é que eles chamaram os estagiários para serem voluntários para ajudar na
organização no dia do primeiro voo.
Naquela
sexta, dia 14, tive que chegar bem cedo. Tivemos um debriefing, e recebemos uma
camiseta, um boné e uma sacola com varias bandeirinhas. Fomos então para a
borda da pista, para distribuir as bandeirinhas para as pessoas que chegavam.
Eu sabia que tinha bastante gente que trabalhava na Airbus, mas eu não tinha
noção do que aquele numero representava. A Airbus é realmente uma pequena
cidade. Com a aproximação das 10 horas, horário programado para a decolagem, um
mar de gente invadiu o gramado ao lado da pista. Tinham mais de 15 mil pessoas
lá. As 100 bandeirinhas que eu tinha recebido para distribuir, e que achava que
eram muitas, e que não conseguiria entregar, acabaram em menos de 5 minutos. E
as 10 horas exatas, o primeiro A350 construído acelerou a fundo e foi para o
céu.
De tarde,
nos reunimos de novo para ver a aterrisagem. Antes, ele ainda deu um rasante
sobre as nossas cabeças. Depois, nos que estávamos ajudando na organização
ainda fomos participar de uma cerimonia, onde estavam presentes grande parte
das milhares de pessoas que trabalharam no A350, o CEO da Airbus, e o próprio
avião.
Foi um dia
incrível, e que vai demorar muito tempo ainda para se repetir. Ainda demos um
pouco de sorte que o tempo estava bom. Embora depois de ficar o dia todo
debaixo do sol, isso não parecesse mais tão bom. Além do mais, foi uma das
poucas oportunidades que eu tive para tirar fotos dentro da Airbus, algo que é
normalmente estritamente proibido.
Saindo da
Airbus fui encontrar meus pais, que tinham chegado em Toulouse no dia anterior.