sábado, 7 de setembro de 2013

The end : Home sweet home

Home Sweet Home by Tommy Lee on Grooveshark

E o dia que eu pensava que nunca ia chegar finalmente está aqui, o meu último dia na França.

Os últimos dias foram corridos, e passaram muito rápido. Tão rápido, que ontem era a minha última noite no apartamento, eu ainda tinha um número enorme de coisas fora da mala e nenhuma ideia de como as colocar dentro. No final, entre calças jeans deixadas para doação, e praticamente chutes para fechar a mala, tudo deu certo.

Hoje foi também meu último dia na Airbus. Foi meio estranho dizer adeus, ou um muito improvável “até logo” para as pessoas que compartilharam bem mais do que apenas um escritório ou almoços todos os dias no restaurante da empresa. Indo embora já começou a bater aquela saudades/nostalgia mesmo que o estágio tivesse acabado de acabar.

Agora de noite com o meu antigo coloc, Benoît, e com os novos colocs que acabaram de chegar fomos a um bar e depois a uma pizzaria. Deu para sentir por uma última vez aquela ambiente típico de Toulouse. E meu deu aquele aperto no peito de ter que ir embora.

Depois, eles me trouxeram aqui para o aeroporto, onde eu vou passar a minha última noite. Engraçado como a apenas a alguns metros daqui, do outro lado da pista, ficam os prédios da Airbus, onde eu passei a maior parte do meus últimos 5 meses. Tenho certeza que vou vê-los mais uma vez, amanhã, antes de entrar no avião.

É estranho ir embora. Eu me sentia até mais ansioso do que nos dias anteriores da vinda, a pouco mais de dois anos atrás. Quando eu cheguei aqui era como um mundo novo que estivesse se abrindo, e as oportunidades pareciam infinitas. Hoje é como uma porta que se fecha atrás de mim. O gosto amargo de missão cumprida com a certeza que essa época, esses últimos dois anos, acabaram.

Volto para casa. Ou não, porque tenho certeza que não sou o mesmo de quando eu sai daquela louca cidade chamada São Paulo.

Obrigado à você, leitor, que me acompanha desde o início ou que simplesmente caiu nesse texto e conseguiu ler até aqui. Queria falar também o nome de cada um que me ajudou nesses dois anos, mas o meu caminho se cruzou com o de tantas pessoas, que iria ser impossível cita-las todas aqui sem esquecer ninguém. Espero que vocês saibam como foi importante a ajuda que me deram.

Enfim, paro de escrever aqui, e termino assim esse blog. Está na hora de voltar pra casa (pelo menos por alguns dias).



domingo, 25 de agosto de 2013

Berlim

É verdade que nunca tive uma vontade muito grande de conhecer a Alemanha. Nesses dois anos que estive aqui, só tinha ido uma única vez até Munich, isso que era a Oktoberfest. Felizmente, consegui corrigir esse grave erro a tempo. Depois de ter ouvido as melhores coisas possíveis de todos que já tinham visitado Berlim, resolvi ir conhecê-la. Utilizei o feriado do dia 15, que por ser uma quinta ia emendar a sexta, e provavelmente ia ser a minha ultima viajem antes de voltar para o Brasil.

O meu voo saiu bem cedo. Fiz uma escala em Frankfurt. O aeroporto é incrível. Do lado de fora, ainda no avião, deu para ver um terminal gigante, o prédio todo espelhado, e vários símbolos da Lufthansa por todo o canto. Sem contar que eu vi uns dois A380 taxiando, como se fosse a coisa mais normal do mundo.

Peguei outro avião e cheguei no fim da tarde em Berlim. Fui deixar as coisas no hostel e me disseram que eles tinham um pequeno problema. Embora eu tivesse reservado um quarto de 10 pessoas, eles estavam com overbooking, então eu ia receber um upgrade para um quarto simples, sem ter que pagar a diferença. Não reclamei, e o quarto era muito bom. O hostel em si era bem legal. Se chama Circus Hostel, e tem um bar no subsolo.

Dei umas voltas pela cidade, e voltei pro hostel. Fui até o bar, que estava bem cheio. Estava conversando com um inglês e uma inglesa, quando simplesmente do nada, apareceu um cara que fez Calculo I comigo na Poli. Isso a uns 5 anos atrás! Sério, às vezes me impressiono como o mundo é pequeno.

Na verdade o hostel estava cheio de brasileiros. Aquela noite, quando mais tarde fomos para um outro bar, devíamos ser uns 12 brasileiros. Até acabei conhecendo depois dois cariocas que eram bem gente boas.

No outro dia, foi difícil acordar mesmo que já fossem 11 da manhã. Tomei um café da manhã bem reforçado no hostel mesmo, e fui fazer o walking tour. Berlim é uma cidade gigante, com muita historia e varias coisas interessantes para se ver. O walking tour demorou umas 4 horas, talvez até mais, mas ele foi muito legal.

Começamos pela ilha dos museus, mais especificamente no Lustgarten. Um jardim muito bonito, com um museu ao fundo, e uma bela catedral em um dos lados. Fomos andando até uma pequena construção, Neue Wache, que é um memorial de guerra, onde no interior tem uma comovente escultura que representa uma mão com o seu filho morto nos braços.




Passamos por vários domos, e por uma casa de opera, até chegarmos ao Checkpoint Charlie. Esse era um dos únicos três lugares onde se era possível passar de Berlin Oriental para Berlin Ocidental. No caminho, a nossa guia sempre ia contando diversas historias, sempre bem interessantes.

Uma coisa que eu já tinha notado era que o farol de pedestres tinham uns bonequinhos diferentes. Na época em que Berlim estava separado, talvez para melhorar um pouco o animo da parte leste, o governo resolveu criar o Ampelmännchen, esse personagem bem simpático que diz para as pessoas se elas podem ou não atravessar a rua. Na época da reunificação, eles foram extintos. Mas as pessoas gostavam tanto deles que houve uma certa revolta. Hoje, eles podem ser encontrados em toda a antiga parte leste, e até em certas partes ocidentais. Sem contar as diversas lojas de souvenirs que vendem o Ampelmänchen estampado em tudo o que se possa imaginar.


Seguimos então para frente do museu da Topografia do Terror, onde se pode ver uma parte do muro de Berlim ainda de pé. Passamos por alguns prédios construídos na época nazista, até chegarmos a um estacionamento ao ar livre. Nada, a não ser uma pequena placa, indicava que ali era o local do antigo bunker onde Hitler se suicidou.

Não muito distante, fica o memorial ao Holocausto. Uma área bem grande, com imensos blocos de concreto preto enfileirados. Além disso, o solo é bem desnivelado. Olhando de fora não parece, mas uma pessoa inteira pode desaparecer atrás dos blocos.



Por ultimo, fomos até o Portão de Brandemburgo, um dos maiores símbolos da cidade.

Antes de voltar para o hostel, ainda paramos em um barzinho, para experimentar algumas especialidades alemãs. Tomamos vários tipos de cerveja, todas boas e baratas. Tinha até uma que era verde.

De noite, como estava muito cansado, tinha prometido a mim mesmo ir dormir não muito tarde. Claro que não deu certo. Tínhamos ido apenas a um barzinho ali perto, e acabamos conhecendo um brasileiro que morava em Berlin. O que foi muito bom, pois ele deu varias dicas interessantes, o que incluía um outro bar, ali perto, que claro que fomos conhecer.

No sábado, a primeira coisa que fiz foi ir até o estádio olímpico. Esse estádio foi construído na época do domínio nazista, quando eles sediaram as olimpíadas de 1936. Na época, eles queriam mostrar toda a sua força para o mundo, e o estádio é realmente grande. Ele tem uma fachada toda em pedra, o que o torna bem imponente.


Depois, voltei até o centro e entrei no museu da Topografia do Terror. Ele é muito interessante. Existem varias informações, e eles explicam em detalhes como a Gestapo foi utilizada durante o regime nazista.

Saindo de lá, dei uma volta por um parque ali perto, onde se encontra um grande obelisco.


Fui então até a East Side Gallery. Um pedaço do muro que ainda esta de pé, com quase 1 quilometro e meio de extensão. Mas ele tem algo de especial. Logo após a unificação, no calor do momento, diversos artistas pintaram aquela parte do muro. Aquelas pinturas, verdadeiras obras de arte ao ar livre, refletem bem a temática da época.

Eu só fiquei meio chateado que varias das pinturas estão meio destruídas, principalmente por causa de pessoas que assinam seus nomes ou fazem outros desenhos por cima.







Aquela noite, depois de voltar pro hostel, ainda saímos para um lugar lá perto. Foi difícil acordar no outro dia para pegar o avião. Fui embora, mas com uma vontade muito grande de ficar. Gostei muito de Berlim, de um jeito que eu não esperava. Berlim é uma cidade bem cosmopolita, com diferentes tipos de pessoas. Além disso, tem muita coisa interessante para ver e fazer em Berlim, e tem muita coisa que eu queria fazer mas não deu tempo. Eu tenho que voltar pra lá.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Férias?!

Quando julho começou, deu para sentir chegando também o verão acompanhado das férias.

Esse ano, eu passei a Queda da Bastilha, 14 de julho, em Toulouse. Não esperava nada comparado com Paris, que ano passado foi magnifico, apesar das dificuldades que tivemos para voltar para casa. Mesmo assim, aqui em Toulouse tinha uma multidão comemorando. Todas as ruas perto de Jean Jaures estavam lotadas de gente, e os fogos, que foram soltos a partir da midiateca, foram bem bonitos. Acho que esse é o feriado mais importante para os franceses. Ele me pareceu bem celebrado em todo o canto.

Uma coisa engraçada que da para notar bastante na França é como as cidades esvaziam na época de férias. Paris durante os meses de julho e agosto, mesmo com a grande quantidade de turistas, é mais calma. Em Toulouse então, famosa por ser uma cidade recheada de estudantes, a comparação fica ainda mais evidente.

Você começa vendo menos pessoas na rua, uma pessoa ou outra sai de férias no escritório. De repente, as entradas e saídas do metro parecem vazias. Aquelas pessoas, vestidas ou de azul, ou de verde, ou de vermelho, que ficam na porta do metro, distribuindo aqueles jornais gratuitos que são ótimos para se ler no ônibus quando se acordou atrasado e se esqueceu de pegar um livro; até elas estão de férias.

Os horários dos ônibus mudam e eles demoram mais tempo entre uma passagem e outra. E então, um dia, eu me vejo praticamente sozinho na Airbus. Até mesmo no meu apartamento os meus colocs estão indo embora.

É, todos estão saindo de férias. Na verdade, quase todos, por que eu como estagiário não tenho direito a férias. Pelo menos, com essa calma toda, o restaurante, normalmente lotado ao meio dia, fica muito mais vazio. E no ônibus até da para voltar sentado algumas vezes.

Mais, finalmente, o inverno realmente foi embora. O calor aqui é bem grande, ainda mais que normalmente faz bastante sol. Às vezes caem umas tempestades bem fortes, mas elas são relativamente rápidas.

Além disso, o verão deixa a cidade com um clima particular; tudo parece mais alegre. De noite, ainda existe aquele resquício do forte calor do dia, mais o ar já está bem mais arejado. Caminhar pelas pequenas ruas de Toulouse é algo bem legal nesse momento. A prefeitura de Toulouse aproveitou essa hora especial do dia e organiza todas as noites um show de luzes no Capitole, o prédio da prefeitura.

A cada meia hora, por 15 minutos, o prédio fica todo iluminado. Mas não é uma iluminação qualquer. O jogo de luzes se aproveita da fachada, das colunas, das janelas e de cada pequeno detalhe do prédio para montar cenários e contar pequenas historias. A iluminação vai desde um rio, onde as janelas representam cascatas, até um kit de DJ, com as colunas como reguladores de som.

E a praça, que é bem movimentada, por 15 minutos para. Todos que estão passando chegam mais perto para ver, e sentam no chão mesmo. Parece um teatro ao ar livre. Quando acaba, as pessoas levantam e num piscar de olhos a praça volta ao seu movimento habitual.

Também aproveitamos esse clima agradável para fazermos um churrasco uma noite dessas. Eu era o único brasileiro, o que me permitiu ver como era um barbecue tipicamente francês. Até no churrasco a refeição foi bem separadinha. Primeiro o apero, depois a entrada, então o prato principal, seguido pela sobremesa, e, por fim, um digestivo. Consegui encontrar uma cachaça no supermercado, então deu para fazermos algumas caipirinhas, que todos adoraram. A carne, no entanto, não lembrava nem um pouco um churrasco brasileiro, parecia mais um hambúrguer. De qualquer forma estava tudo muito bom, e comemos realmente muito bem. Foi difícil acordar cedo no outro dia para ir trabalhar. 

domingo, 28 de julho de 2013

Meus pais na França - 2013

Meus pais estavam em Toulouse desde quinta, 13 de junho. Na sexta, por causa do 1° voo do A350, acabei saindo bem tarde da Airbus, mas no sábado pegamos a estrada ainda de manhã. Tínhamos como destino as Pyrannées, mais precisamente, Andorra.

Andorra la Vella, a capital daquele pequeno pais, não fica muito longe de Toulouse, mas acabamos levando praticamente o dia inteiro para chegarmos lá. Existe um túnel, que corta a montanha por dentro, e chega diretamente na cidade, sendo bem mais rápido. Decidimos, no entanto, ir pelas estradas que vão serpenteando os picos e vales, e que embora demore muito mais, tem uma paisagem muito bonita.

A estrada é bem tortuosa, fazendo vários zigue-zagues. Paramos varias vezes para tirarmos fotos. Mesmo estando já praticamente na metade de junho, ainda tinha um pouco de neve nos picos das montanhas. Passamos por estações de esqui, que obviamente estavam fechadas, mas onde deu para pararmos e caminharmos um pouco na neve. Aquela linda paisagem das montanhas era decorada por milhares de riozinhos, formados pelo desgelo da montanha.

Antes de chegarmos à capital, ainda passamos por uma cachoeira enorme, e por uma pequena igreja abandonada no meio daquela imensidão.




Chegamos em Andorra la Vella no final da tarde.

No outro dia, depois de termos passeado mais um pouco pela cidade, pegamos de novo a estrada.

Fomos em direção ao mediterrâneo, até uma pequena cidade, chamada Collioure, dica de um dos meus colocs. Collioure é uma cidade a beira mar bem pequena, mas muito bonita. A praia é pequenininha, em forma de meia-lua, com um pequeno castelo em uma das pontas, e uma fortificação e uma torre na outra.


Comemos por lá e depois voltamos para Toulouse. Parece que não tinha sido apenas a gente que tinha pensado em ir viajar naquele final de semana. O transito na volta estava enorme.

No outro final de semana, fomos visitar duas cidadezinhas próximas de Toulouse: Carcassone e Albi.

Depois de uma hora de carro, chegamos a Carcassone. Ela é uma cidade tipicamente medieval, e uma das poucas que ainda é completamente murada (um pouco como Obidos em Portugal, mas um pouco maior). Passamos o dia ali, andando pelas pequenas ruazinhas daquela cidade, conhecendo o castelo, e andando pelos muros.

No outro dia fomos para Albi. Uma cidade pequena, mas que tem um centro bem bonito. Claro que existe uma grande catedral, do lado de uma praça, mas o mais bonito é o jardim, que fica atrás da catedral. Por causa do desnível, ele fica em um terreno mais baixo, o que quer dizer que da para vê-lo do alto. Um muro o delimita; do outro lado fica um belo rio, com duas belas pontes.




Na segunda-feira seguinte meus pais seguiram viagem e foram para Paris. Nos outros dois finais de semana aproveitei e fui encontra-los lá. A primeira viagem foi de trem, e como ela demorou muito, no segundo final de semana resolvi ir de avião. Foi a primeira vez que voei depois de ter começado a estagiar na Airbus, e foi uma experiência um pouco diferente. Eu tinha uma noção muito maior e muito mais clara das coisas que estavam acontecendo. Foi bem legal olhar pela janela um pouco antes da aterrisagem, e consegui identificar as antenas do Glide, do LOC, a estação dos DMEs e varias outras coisas.

Voltar para Paris foi engraçado também. Depois de morar em Toulouse eu achei Paris muito maior do que antes. Eu pensava que ia ser rápido chegar da Gare Montparnasse até o Hotel de Ville, duas regiões relativamente centrais. Mais com o tempo necessário eu sentia que eu podia ter atravessado Toulouse inteira. Foi interessante me deslumbrar de novo com aquela bela arquitetura e monumentos que só existem em Paris. Me senti meio que como um caipira.

Foi bom reencontrar o pessoal que ainda estava por lá. Aproveitei também para passar na Supélec para pegar algumas coisas que eu não consegui levar comigo na hora da minha mudança para Toulouse. Desculpa para quem ainda esta lá, mas me senti feliz de não morar mais ali. Claro que eu tive problemas na hora de ir para a Supélec. O RER que atrasa tanto que faz perder o ônibus, que só vai passar daqui a pelo menos mais uma hora. Morar na Supélec, com certeza, é uma das coisas que eu não sinto falta.


Então, meus pais voltaram para o Brasil. Foi bom revê-los, principalmente depois de tanto tempo. Mas a despedida nem foi tão triste. Em algumas semanas sou eu que estarei voltando para o Brasil.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Primavera?! / Primeiro vôo do A350!!

Me sentia meio enganado. Não só eu, como quase todo mundo que mora no hemisfério norte. Era meio de maio, estávamos no meio da primavera, e nada do tempo melhorar. Estava saindo para trabalhar de sobretudo e malha, do mesmo jeito que eu sairia se fosse no inverno.

No inicio de junho esquentou um pouco, mas de lá para cá os dias vão se alternando. Alguns fazem sol e um calorzinho, outros são chuvosos ou bem nublados e um pouco frios. Mas no geral, finalmente tem ficado mais quente.

Morar no coloc esta sendo bom também. No dia do amistoso entre Brasil e França, combinei de ver o jogo com o Benoît, que é francês. Foi no mínimo engraçado. Outro dia resolvi fazer brigadeiro Cheguei até a comprar granulado para fazer as bolinhas. Mas mesmo sendo fácil de fazer, meus dotes na cozinha se superaram, e o brigadeiro ficou bem mole. Estava muito bom, o pessoal gostou bastante, mas as bolinhas estavam tão moles que elas meio que derretiam, e ficavam em forma de um cilindro todo achatado.

Na Airbus, fomos um dia visitar a FAL (linha de produção) do A380, o maior avião do mundo. Esse avião é enorme, e olhar para ele, e pensar que algo daquele tamanho pode voar, é meio inacreditável. Olhar quatro, um do lado do outro, sendo feitos os ajustes finais, é algo de tirar o folego. E se esse avião é imenso, é impossível descrever o tamanho do prédio da FAL. La dentro tudo é gigante, a asa é enorme, os guindastes parecem que conseguem levantar um navio, e os flaps das asas são tão grandes que parecem uma outra asa. Tudo é tão grande que as pessoas parecem formigas perdidas ali no meio.

Mas algo muito maior estava para acontecer, e eu tive muita sorte, de estar no lugar certo, na hora certa. Na sexta, dia 14 de junho, foi o primeiro voo do mais novo avião da Airbus, o inovante A350.

O projeto do A350 começou a muito tempo e o primeiro voo é uma das etapas mais importantes do projeto. É quando finalmente varias teorias e varias decisões que foram feitas são finalmente testadas. E é algo muito raro de se ver. O ultimo primeiro voo que teve, foi o do A380, isso no inicio dos anos 2000. Em média, se tem um primeiro voo por década.

Nos últimos meses, era notável a empolgação de todos com a chegada do primeiro voo. Mesmo quem não trabalhava no projeto estava bem animado. Informações sobre cada etapa que era concluída e novidades eram passadas de boca em boca, e conversas sobre o assunto eram comuns durante o almoço ou nos corredores. O Thierry me disse que normalmente, no dia D, todas as pessoas saiam dos prédios e iam para o lado da pista, para ver o avião decolar. Que era algo bem único.

O mais legal, é que eles chamaram os estagiários para serem voluntários para ajudar na organização no dia do primeiro voo.

Naquela sexta, dia 14, tive que chegar bem cedo. Tivemos um debriefing, e recebemos uma camiseta, um boné e uma sacola com varias bandeirinhas. Fomos então para a borda da pista, para distribuir as bandeirinhas para as pessoas que chegavam. Eu sabia que tinha bastante gente que trabalhava na Airbus, mas eu não tinha noção do que aquele numero representava. A Airbus é realmente uma pequena cidade. Com a aproximação das 10 horas, horário programado para a decolagem, um mar de gente invadiu o gramado ao lado da pista. Tinham mais de 15 mil pessoas lá. As 100 bandeirinhas que eu tinha recebido para distribuir, e que achava que eram muitas, e que não conseguiria entregar, acabaram em menos de 5 minutos. E as 10 horas exatas, o primeiro A350 construído acelerou a fundo e foi para o céu.



De tarde, nos reunimos de novo para ver a aterrisagem. Antes, ele ainda deu um rasante sobre as nossas cabeças. Depois, nos que estávamos ajudando na organização ainda fomos participar de uma cerimonia, onde estavam presentes grande parte das milhares de pessoas que trabalharam no A350, o CEO da Airbus, e o próprio avião.

Foi um dia incrível, e que vai demorar muito tempo ainda para se repetir. Ainda demos um pouco de sorte que o tempo estava bom. Embora depois de ficar o dia todo debaixo do sol, isso não parecesse mais tão bom. Além do mais, foi uma das poucas oportunidades que eu tive para tirar fotos dentro da Airbus, algo que é normalmente estritamente proibido.

Saindo da Airbus fui encontrar meus pais, que tinham chegado em Toulouse no dia anterior.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Feriados e Bordeaux


E maio chegou. Um mês bem aguardado. Logo no primeiro dia, feriado! E isso é algo que vai se repetir quase todas as semanas desse mês. No entanto, o conceito de feriado aqui, embora seja o mesmo, implica em coisas um pouco diferentes. Feriado é um dia de descanso, onde as pessoas não trabalham. Na França, um pais muito mais socialista que o Brasil, isso incluem os vendedores de lojas, os motoristas de ônibus, o pessoal responsável pelo metro. Sim, nenhum transporte publico funcionou no dia 1° de maio. Na verdade eu não sei se isso é algo normal em todo o canto, ou se no Brasil, como eu tinha a sorte de quase não precisar pegar nada disso, eu nem reparava.

Pelo menos, alguns cinemas ficaram abertos, e deu para ver IronMan 3. Mas eu tive que ir de bicicleta, o que não foi nada ruim.

E na semana seguinte, quarta e quinta, dias 8 e 9 de maio, também eram feriados. Aproveitei para combinar com um pessoal de Paris para irmos viajar. Foi muito bom poder encontrar eles de novo e poder conversar em português. Acabamos escolhendo Bordeaux, mais ou menos no meio do caminho. Na verdade sexta não emendava, mas o meu tutor do estagio é bem gente boa e disse que eu não precisava ir.

Cheguei em Bordeaux na quarta bem cedo. Dei uma volta na cidade enquanto esperava a Luiza, o Daniel e o Fernando. Nos encontramos, fomos conhecer um pouco mais a cidade, e de noite comemos em um restaurante brasileiro.





No outro dia, pegamos um trem para irmos à Saint Emilion, pequena cidade um pouco a leste de Bordeaux. Essa é uma cidade bem conhecida pelas suas vinícolas, e também pela sua bela arquitetura. O dia não estava dos melhores, estava chovendo um pouco, mas mesmo assim, aquelas enormes plantações por todos os lados, se estendendo até o horizonte; as grandes casas, ou chateaux, de cada uma dessas vinícola; e aquela cidade de ruas estreitas, de paralelepípedos, construída em uma colina, formavam um cenário muito bonito.

Almoçamos, e fizemos algumas ligações, até que conseguimos uma reserva em um tour por uma das vinícolas, o Chateaux Soutard, um grand cru classé de Bordeaux (uma alta classificação para os vinhos de Bordeaux). Andamos bastante para chegarmos no chateaux, acabamos quase nos perdendo, fizemos uma volta bem grande por umas ruazinhas de terra cercada por plantações de uva, mas conseguimos chegar a tempo do tour.

Aprendemos sobre o processo de fabricação do vinho naquela vinícola, que as plantações lá são intencionalmente mais baixas, e que uma característica da região é que o solo é de calcário. Até pegamos um elevador subterrâneo para melhor vermos esse ultimo detalhe. No final ainda tivemos uma degustação, onde pudemos provar duas safras diferentes daquele bom vinho.



Voltamos para Bordeaux, onde jantamos em um restaurante tradicional, e no outro dia fomos para a Dune du Pilat, uma praia que tem lá perto, e que foi uma dica da alemã que mora comigo em Toulouse.

Tivemos que pegar um trem, e depois um ônibus. O ônibus estava realmente cheio, e teve um pequeno tumulto quando a motorista quase passou reto por um ponto, e não queria deixar o pessoal entrar. Na verdade um cara forçou a porta lateral para entrar, e mais um pessoal aproveitou para entrar também, reclamando que fazia mais de uma hora que eles estavam esperando. Durante essa viagem eu vi situações meio inusitadas que mostraram que o transporte publico aqui também não funciona as mil maravilhas, algo que eu sabia desde o 14 juillet do ano passado. Para voltar da Dune du Pilat, que é um lugar super turístico, tinha um ônibus apenas de 2 em 2 horas. E quando fomos para a parada, um dos ônibus simplesmente não passou, o que fez com que tivéssemos que esperar mais de 2 horas, embaixo do sol, sem saber ao certo o que estava acontecendo, até chegar o próximo. Outra coisa estranha foi que quando pegamos o trem não tinham mais lugares para sentar, e tivermos que ir de pé. Na volta para Toulouse aconteceu a mesma coisa, tinham varias pessoas de pé, embora eu tenha conseguido achar um lugar para sentar.

Mas de qualquer forma, a Dune du Pilat realmente é um lugar muito bonito, e ainda tivemos sorte, pois foi o único dia que realmente fez sol durante a viagem. No meio da floresta, simplesmente do nada tem uma parte enorme de areia, com umas dunas muito altas. Subimos até o topo, de onde se tem uma vista muito legal: de um lado, o oceano, do outro, uma bela floresta; sem contar a imensidão de areia para todos os lados. Eu e o Fernando resolvemos ir até a praia, até pensamos em tentar entrar no mar. Quando começamos a descer percebemos que o mar ficava muito mais longe do que parecia, e quando chegamos, vimos que a agua estava bem fria.

Ficamos um tempo ali e resolvemos voltar. Na hora de descer não tínhamos percebido como era íngreme a descida. Além do mais, as dunas são feitas de areia mesmo, bem fina e fofa, não daquelas pequenas pedras que se pode encontrar em quase todo o litoral do mediterrâneo. Então, a cada passo que dávamos, o nosso pé afundava e voltava quase dois passos para baixo, foi bem cansativo chegar de novo até o topo.





Jantamos de novo em um outro restaurante bem típico, e no outro dia de manhã, sábado, ainda tivemos um pouco de tempo de dar uma ultima volta por Bordeaux. No inicio da tarde voltamos cada um para a sua respectiva cidade

terça-feira, 7 de maio de 2013

Vida nova


Tinha chegado fazia pouco em Toulouse, e, como não podia deixar de ser, tive problemas de novo com o banco. Quando tentei sacar dinheiro com o Visa Travel Money, além da caixa eletrônica do BNP não me dar o meu dinheiro, ele também não me devolveu o cartão.

Na hora você fica meio sem reação, não tem nada que se possa fazer e é muito estranho simplesmente andar e ir embora. Mas isso já tinha acontecido antes, e eu sabia que bastava voltar no banco para recuperar o cartão. O problema é que agora eu estou estagiando, e o banco fica aberto apenas durante o horário do estagio. Mas um dia eu pedi pra sair mais cedo, e consegui recuperar o cartão.


Com o cartão em mãos fui tentar fazer um saque de novo, dessa vez em outro caixa eletrônico, e por mais improvável que possa parecer, a maquina pegou o meu cartão de novo. O pior foi que quando eu voltei naquele BNP, alguns dias depois, eles falaram que não acharam nenhum cartão preso dentro da maquina. Embora isso tenha sido bem estranho, e na hora eu tenha ficado absurdamente preocupado, foi assim que eu fiquei sabendo uma dica bem interessante. No site www.visa.com.br tem uma lista com os caixas eletrônicos que aceitam o Travel Money. Em outros pode acontecer o problema que aconteceu comigo, do cartão ficar retido, o que não é nada legal.

Mas apesar desses pequenos problemas, a vida em Toulouse estava relativamente boa. No estagio o Thierry me levou para conhecer a linha de produção do A350, um avião que ainda esta em fase de desenvolvimento e ainda não esta voando. Outro dia pudemos ver alguns testes de resistência sendo feitos nele também. Alem disso, fui conhecer um simulador que é impressionante, parecia que eu realmente estava dentro de uma cabine de um A380, e o Thierry foi me mostrando o que cada botão fazia.

O tempo aqui começou a ficar bom, embora alguns dias de frio e de chuva insistam em voltar de vez em quando.

Na casa, o labrador é muito brincalhão. Toda vez que eu chegava do trabalho ele vinha correndo, com uma bola de tênis na boca, querendo brincar, parecia que ele nunca ficava cansado. O pessoal também é bem simpático. Mas, eu já tinha decidido que iria ficar apenas o primeiro mês por lá, o que significava que eu tinha que achar outro lugar para morar.


Comecei a procurar vários colocs (como republicas no Brasil). Não estava nada fácil, não tinham muitas opções, e aparentemente tinha muita gente na procura também. Mesmo assim cheguei a visitar vários lugares. Então, semana passada, o coloc que eu tinha achado mais legal falou que eles tinham me aceitado. Já me mudei nesse final de semana.

Alem de ser muito bem posicionado, perto do centro, e bem mais perto da Airbus, o pessoal parece ser bem legal. Tem um francês, uma francesa, e uma alemã, e tenho certeza que iremos passar bons momentos juntos.

PS.: De novo, e por aqui também : mãe, pai, feliz aniversario pra vocês!

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Toulouse - inicio do estagio


Naquele domingo, coincidentemente de Pascoa, acordei cedo, e o Daniel e a Luiza me acompanharam até a gare de Massy (valeu!). Peguei um trem para Montpellier e de lá peguei outro até Toulouse. Se eu achei complicado colocar tudo o que eu tinha juntado em dois anos em duas malas, uma mochila de 70L e a pasta do notebook, foi muito mais difícil transportar tudo isso com apenas dois braços, e tendo que subir e descer escadas.

Mas, no iniciozinho da noite, cheguei no Ibis que eu ia ficar em Toulouse. Se o horário de verão que começou na noite anterior fez com que eu dormisse uma preciosa hora a menos, pelo menos ele fez com que quando eu chegasse em Toulouse ainda estivesse claro, e bem diferente de Paris, dava até para ver o sol. Lembrei de todos que me falavam que eu ia gostar muito de Toulouse, principalmente por causa do calor e do sol, e realmente, deu para sentir aquele inicio de primavera chegando e o frio indo embora.

Foi uma boa primeira impressão, mas no resto da semana o tempo fechou, ficou frio, e choveu quase todo dia. Mas tudo bem.

Segunda-feira, aproveitei que era feriado para procurar uma casa para morar. A maioria dos colocs (tipo uma republica na França) que eu ligava me respondia que todos os quartos já estavam ocupados. Foi meio assustador estar em uma cidade sabendo que eu teria que ficar pelos próximos 5 meses, e simplesmente não ter um lugar para morar. O que me tranquilizou foi que um brasileiro, muito gente boa, disse que se eu precisasse eu poderia ficar na casa dele por alguns dias. No fim, eu acabei encontrando bem rápido um lugar, não era exatamente o que eu queria, mas era o que eu precisava.

Na terça, logo depois do primeiro dia de trabalho já me mudei. É uma casa de família, o que me lembra um pouco o tempo de Vichy. É apenas temporário, enquanto eu ainda fico procurando, mas todo mundo lá é bem simpático e bem tranquilo. E tem até um cachorro.

Terça foi também o meu primeiro dia de estagio. Essa é a principal razão pela qual eu me mudei pra Toulouse. No final do terceiro ano de qualquer escola de engenharia na França, os alunos tem um período de 5 meses reservado para fazer um estagio. Isso é muito bom, porque o estagio é o dia inteiro, e a dedicação é exclusiva, não temos mais nenhuma aula. E sinceramente, depois de quase 6 anos de ensino superior, eu não aguentava mais acordar todo dia de manhã, ir sentar em uma cadeira, ficar ouvindo o professor falar, e depois quase morrer de estudar para fazer uma prova. A Supélec, principalmente, conseguiu sugar até a ultima gota das minhas energias.

Enfim, o meu estagio esta sendo na Airbus. O lugar onde fica a Airbus é imenso, com vários prédios, galpões, e fica encostado no aeroporto. Logo depois de passar a portaria principal, andando pela avenida principal é possível ver vários aviões estacionados bem ao lado. No primeiro dia, após uma palestra de apresentação de manhã, onde nos mostraram varias estatísticas da empresa e nos derem conselhos de segurança, como não estacionar os carros embaixo das assas dos aviões, de tarde eu fui conhecer o meu tutor de estagio e o lugar onde eu estou trabalhando. O ambiente é muito bom, e o pessoal do departamento é simpático, bem caloroso.

Eu sempre gostei de aviões, mas nem eu sabia que tanto assim. Tem varias coisas que eu vou descobrindo que eu sabia que existia em um avião, mas que eu não fazia ideia do porque e como são usados. Todo dia, quando eu estou saindo, da para ver alguns aviões fazendo testes em voo. É ali também que estão partes das linhas de produções de vários aviões, como o A320, e o gigante A380. Hoje mesmo o meu tutor me levou para conhecer o do A320.

Meus olhos deviam estra brilhando como o de uma criança que recebe um brinquedo novo. Vimos todo o projeto de montagem, a carcaça separada, a junção das asas, do trem de pouso, das milhares de calculadoras à bordo. A gente podia chegar bem perto que às vezes dava até para tocar nos aviões, e o Thierry me explicava cada coisa que eles estavam fazendo. No final, um dos aviões que estavam quase prontos tinha uma pintura da TAM. Fiquei imaginando se um dia eu voaria exatamente nele.

Estar estagiando esta sendo muito bom. A tranquilidade que se tem quando se sai do trabalho, e as noites sem preocupações nem deveres para serem feito. Morar na cidade, depois de morar em Gif, esta sendo muito bom também. Tem um Carrefour do lado de casa, e da para comprar pão todo dia, eu não preciso mais fazer um estoque pra 2 semanas.

Toulouse parece bem legal, o pessoal em geral pareceu bem acolhedor. Claro que com o verão chegando as coisas sempre tem tendência a melhorar. Embora seja grandinha, Toulouse não é imensa. Tem até metro, mas só passam dois vagões por vez. No entanto a frequência é muito melhor que em Paris, aqui passa metro a cada segundo.

Vai ser interessante mudar completamente de ares. Embora eu goste bastante de Paris, e ache aquela cidade magnifica, tenho certeza que eu vou aproveitar bastante esse tempo em Toulouse.



domingo, 31 de março de 2013

Fim! - Au revoir Supélec


Depois das férias foi só correria. Tivemos uma apresentação de Mec Flu Numérique na terça, e na outra semana, duas provas, Ecoulements Compressibles, e Aerodynamique, que estavam bem difíceis. Finalmente sexta, dia 22 chegou. Mesmo tendo ainda uma semana de aula, o Cassez Vouz les 3A, a festa de despedida para o pessoal do terceiro ano, foi naquela sexta.

Já dava para sentir o gosto do fim da Supélec, estouramos uma champagne e fomos com tudo para a festa. A festa não estava lotada, e nem simpática. Todo o resto da Supélec estava na véspera da semana de provas, então ao invés de irem para a festa, tinham que ficar estudando. Mas mesmo assim a festa foi muito boa. Era a ultima festa na Supélec, podia estar vazia, mas o ambiente estava alegre, reflexo da sensação de liberdade que nos do 3 ano estávamos sentido. Eu e o Janailson ficamos até o final, até o Connemara.


Mas temos que lembrar que estávamos na Supélec. Uma semana de aula quer dizer muita coisa ainda. Aquele final de semana foi sem descanso. Na segunda de manhã prova oral de Identification, e de tarde apresentação do CEI (projeto parecido com um TCC). De novo senti o gosto da Supélec acabando, todas as provas já tinham acabado! Mas faltava o resto da semana, e embora a apresentação tenha sido na segunda, terça o dia e a noite inteira tivemos que ficar acabando o relatório do CEI. Na quarta fui de novo dormir tarde, para fazer o relatório de um EL (laboratório).

Na quinta, íamos visitar uma usina nuclear. A saída estava prevista para as 6, e o encontro seria as 5:45. Quando acordei e olho no relógio eu vejo: 5:44. Nunca corri tanto na vida. Cheguei um pouco atrasado, mas o ônibus ainda não estava lá.


Para chegar até a central nuclear de Chooz foram mais de 4 horas e meia de viagem. Quando chegamos lá, após uma apresentação nos separaram em dois grupos. Eu estava no que iria visitar primeiro Chooz A, uma usina desativada desde 1991, que esta em desconstrução. Por causa disso, pudemos entrar até a sala onde ficava o reator nuclear, existe um buraco gigante no chão.

Mas existe uma segurança muito forte. Para entrarmos na sala do reator, antes tivemos que passar por um vestiário, onde deixávamos toda a nossa roupa em um armário. Então, íamos só de cueca até uma outra sala onde eles nos davam um macacão especial, luvas, meias, sapatos, óculos, um kit de 1os socorros e um medidor de radiação.

Para sairmos, o processo era ainda mais complicado. Primeiro tínhamos que passar o kit de 1os socorros e os óculos em uma maquininha, que media a radiação. Depois passávamos por um escâner. Tirávamos o macacão, ficávamos só de cueca e passávamos por um outro escâner. Por fim, depois de estarmos trocados de volta, para sairmos do parque tínhamos que passar por um ultimo escâner.

O problema foi que quando eu e o Pierre colocamos os nossos kits de 1os socorros na maquininha, ela apitou. Quando eu olhei para o mostrador, que falava algo como: “Material infectado” eu não pude acreditar. Eu não pensava em nada, e ao mesmo tempo estava paralisado. Então, um dos técnicos falou com outro, e esse ultimo disse que a maquina só deveria ler um kit por vez. Todos os kits são um pouco contaminados, mas quando se colocam dois juntos, eles passam do valor aceitável.

Depois desse sufoco deu para aproveitar o resto do passeio, que foi bem interessante. No final do dia, estávamos esperando o outro grupo, e quando finalmente eles chegaram e nos pensamos que poderíamos ir embora, um professor falou que um dos alunos tinha sido contaminado, e que o pessoal da central nuclear estava falando com ele.

Eles detectaram a contaminação somente no ultimo escâner, antes de sair do parque. Depois de quase 45 minutos de espera alguém vem falar que o pé dele é que estava contaminado. Mais uma meia hora passa e falam que era o sapato. Depois de mais um tempo, voltam e dizem que na verdade era uma das meias. Por fim, depois de quase duas horas, eles coletaram a meia dele e deram um par novo, e pudemos voltar para a Supélec. No entanto, por causa disso, eles iam lançar todo um procedimento de busca, porque a meia dele foi infectada no vestiário, e então eles vão procurar de onde veio o vazamento.

Depois de tudo isso, após chegar em casa mais de meia noite, ainda tive que ficar acordado quase até as 4 para acabar o relatório do EL. O gosto e alegria de que a Supélec acabou é mais forte do que nunca, embora eu ainda tenha mais um relatório de uma mineur (eletiva) para entregar até o fim da semana.

O fim de semana eu passei preparando as malas e arrumando o quarto. Hoje a gente se reuniu aqui na Supélec mesmo, já que amanhã de manhã eu viajo para Toulouse. Todos os brasileiros da primeira promo, que chegaram na Supélec no meio de 2011 e ainda moram em Gif acabaram indo, e até o Mauricio que mora em Rennes (não que ele estivesse aqui especialmente para isso, mas enfim), sem contar mais um pessoal que chegou depois.

Incrível como passou rápido, e um dos momentos mais difíceis da minha vida acabou de acabar. Lembro como se fosse ontem quando estava chegando na Supélec, e não acreditava como isso realmente era longe de tudo. Mais incrível ainda é que todos que estavam hoje naquela sala, eu não conhecia de verdade a 1 ano e meio atrás. Hoje são simplesmente as pessoas que eu mais sou próximo, com quem eu falo nos momentos de dificuldades, e que me ajudaram muito durante essa fase turbulenta, durante esse 1 ano e meio que estão incrustados na minha memoria, com muito suor, sofrimento, alegria e lagrimas.

Chegar em casa no final da noite, ver tudo quase arrumado, uma ou outra coisa faltando ainda para colocar na mala, e um mundo totalmente novo aberto ao meus pés. Eu poderia estar falando de hoje, como de uma noite de julho de 2011, à quase 10.000km de distancia, em São Paulo.

Depois daquela noite, muita coisa mudou. Agora eu sinto aquele frio na espinha, mistura de medo e alegria para ver o que vai acontecer depois de hoje à noite. 

sexta-feira, 29 de março de 2013

Itália - Parte 2 - Roma e Vaticano


É verdade que o inicio da viagem foi corrido, mal ficávamos um dia em cada cidade. Mas se fizemos isso, foi porque queríamos passar o mais tempo possível em Roma, e essa foi uma escolha certa.

Chegamos em Roma, eu e o Fernando, quinta por volta da hora do almoço. Depois de deixarmos as coisas no hostel e almoçarmos a primeira coisa que fizemos foi dar uma rápida passada no Vaticano.  Depois, fomos até o Spanish Steps, uma escadaria que era o ponto de encontro de um free tour.

O guia nos mostrou varias coisas e nos contou varias historias incríveis de Roma, que mostram como o império romano era extremamente desenvolvido, muito mais do que em praticamente toda a idade média. No meio de algumas praças, existem obeliscos gigantes e em perfeito estado, que foram trazidos do Egito até lá, isso a muito tempo atrás, ainda na época do  império romano. As fontes, normalmente ficam em um níveo mais baixo, e elas não jorram agua para cima. Isso porque a agua que vai até elas vêm, mesmo hoje em dia, de aquedutos, os mesmos que foram construídos pelos romanos.

Durante o tour vimos também varias igrejas, uma com algumas esculturas de Bernini, outras com uma arquitetura mais renascentista. Passamos por um belo boulevar e fomos até o Pantheon. Olhando para o Pantheon, realmente eu o achei uma bela obra de arquitetura, mas o que me impressionou mesmo foi sua historia. Antigamente, ele, como o Coliseu, era totalmente coberto de mármore, que foi pilhado quando o império romano caiu. No entanto, o interior do Pantheon ainda é muito bonito. Mas o mais incrível é o seu domo, que além de ser enorme, é perfeitamente simétrico com o interior. O domo é tão grande e a tecnologia que eles tinham era tão avançada que 1500 anos mais tarde, quando Michelangelo projetou a Basílica de São Pedro, ele criou um domo menor porque eles não eram capazes de construir um tão grande como o do Pantheon. E mesmo antigamente tendo sido uma construção pagã, hoje ele é um prédio cristão, e lá esta a tumba do artista renascentista Raphael.

O tour acabou na Fontana de Trevi, que é muito bonita.









No outro dia, fomos de novo até o Vaticano. Naqueles dias o conclave para escolher o novo Papa ainda não tinha começado, mas eles já tinham fechado a Capela Sistina para preparação. De toda forma, só a praça São Pedro já é muito bonita, e o interior da Basílica então é espetacular.

A Basílica de São Pedro é grande, e com muitos ornamentos, mas são varias coisas que fazem dela um lugar marcante. Logo perto da entrada fica a Pieta, de Michelangelo. A beleza e a perfeição da obra é tanta que chegam a emocionar. A famosa estatua de São Pedro também esta ali na Basílica, e em uma das capelas esta a tumba de João Paulo II.

Uma pequena escada leva para um nível inferior, onde estão as tumbas de vários Papas.

Subimos também até o terraço. A vista de lá é muito bonita. Da para ver a praça de um ângulo muito legal, e embora ela estivesse um pouco movimentada, era estranho pensar que em apenas alguns dias ela estaria completamente repleta de pessoas esperando o anuncio do novo Papa.


 




Depois, fomos para o Coliseu. Para falar a verdade no inicio me decepcionei um pouco. Esperava algo muito maior, e muito mais bonito. O Coliseu de hoje é apenas uma sombra do majestoso circo de espetáculo construído a 2000 anos atrás. O interior, antigamente com todas as arquibancadas de mármore, não esta tão conservado. A fachada apresenta vários buracos, representando os lugares onde as enormes placas de mármore eram presas. Uma coisa foi que o Coliseu aumentou ainda mais a minha admiração pelo império romano.



Antes de voltarmos para o hostel passamos em mais uma igreja. O numero de igrejas importantes em Roma é absurdamente alto, e o interior de muitas delas é de tirar o folego.

Aquela noite fomos para um pub crawl, o Spanish Steps Pub Crawl. A propaganda que fizeram foi muito boa, mas o inicio da noite não estava nada prometedor. Estávamos em um bar não muito grande, e bem vazio. Mas isso acabou sendo bom, acabamos nos enturmando muito fácil com o resto do pessoal que estava no pub crawl, e o resto da noite acabou sendo bem divertida, mesmo que estivesse chovendo quando fomos do segundo pub até a balada, e o nosso guia ficasse nos enganando todo o tempo falando que tínhamos que sair do bar ou que já estávamos chegando na balada.


Mas, sábado de manhã, voltamos mais uma vez para o Vaticano, dessa vez para fazer uma visita guiada diferente, dica de um brasileiro que conhecemos em Firenze. Em um grupo pequeno, com uma guia muito boa, conhecemos a necrópole que fica embaixo da Basílica de São Pedro, e que foi descoberta apenas no inicio do século XX. Durante todo o trajeto, cada historia que ela contava conseguia superar ainda mais a historia anterior, e se completavam de uma forma perfeita. Não tem palavras para descrever o que vimos. As antigas casas, um mosaico, e no final, o tumulo de São Pedro, bem embaixo do altar da basílica. Foi não apenas o tour, ou a visita mais interessante que eu já fiz, mas o meu momento mais marcante na Europa até hoje.

De tarde, fomos conhecer o antigo Fórum Romano, que infelizmente hoje esta em ruinas. Demos uma grande volta para conseguir ver La Bocca della Verità, e o monumento a Victor-Emanuel II.



No domingo ainda passamos no Castelo Sant’Angelo e tomamos um ultimo sorvete em uma ótima gelateria. De noite, todos os aviões estavam atrasados por causa do mau tempo, e fomos chegar na Supélec quase a meia-noite.

Estava bem feliz, a Itália me surpreendeu bastante positivamente. Foi muito legal ver ao vivo e mesmo poder tocar em varias das coisas que ouvia desde pequeno nas aulas de historia. No entanto, foi só pisar na Supélec pra tomar um tapa na cara de realidade. E um bem forte. Tinha um trabalho para apresentar na terça, e tive que ficar acordado até às 5 horas da manhã de domingo, porque senão seria impossível acabar na segunda. Ótimo jeito de lembrar que estava em casa, mas felizmente já estava dando para ver a luz no fim do túnel.