Depois das
férias foi só correria. Tivemos uma apresentação de Mec Flu Numérique na terça,
e na outra semana, duas provas, Ecoulements Compressibles, e Aerodynamique, que
estavam bem difíceis. Finalmente sexta, dia 22 chegou. Mesmo tendo ainda uma
semana de aula, o Cassez Vouz les 3A, a festa de despedida para o pessoal do terceiro
ano, foi naquela sexta.
Já dava
para sentir o gosto do fim da Supélec, estouramos uma champagne e fomos com
tudo para a festa. A festa não estava lotada, e nem simpática. Todo o resto da
Supélec estava na véspera da semana de provas, então ao invés de irem para a
festa, tinham que ficar estudando. Mas mesmo assim a festa foi muito boa. Era a
ultima festa na Supélec, podia estar vazia, mas o ambiente estava alegre,
reflexo da sensação de liberdade que nos do 3 ano estávamos sentido. Eu e o
Janailson ficamos até o final, até o Connemara.
Mas temos
que lembrar que estávamos na Supélec. Uma semana de aula quer dizer muita coisa
ainda. Aquele final de semana foi sem descanso. Na segunda de manhã prova oral
de Identification, e de tarde apresentação do CEI (projeto parecido com um
TCC). De novo senti o gosto da Supélec acabando, todas as provas já tinham
acabado! Mas faltava o resto da semana, e embora a apresentação tenha sido na
segunda, terça o dia e a noite inteira tivemos que ficar acabando o relatório
do CEI. Na quarta fui de novo dormir tarde, para fazer o relatório de um EL (laboratório).
Na quinta, íamos
visitar uma usina nuclear. A saída estava prevista para as 6, e o encontro
seria as 5:45. Quando acordei e olho no relógio eu vejo: 5:44. Nunca corri tanto
na vida. Cheguei um pouco atrasado, mas o ônibus ainda não estava lá.
Para chegar
até a central nuclear de Chooz foram mais de 4 horas e meia de viagem. Quando
chegamos lá, após uma apresentação nos separaram em dois grupos. Eu estava no
que iria visitar primeiro Chooz A, uma usina desativada desde 1991, que esta em
desconstrução. Por causa disso, pudemos entrar até a sala onde ficava o reator
nuclear, existe um buraco gigante no chão.
Mas existe
uma segurança muito forte. Para entrarmos na sala do reator, antes tivemos que
passar por um vestiário, onde deixávamos toda a nossa roupa em um armário.
Então, íamos só de cueca até uma outra sala onde eles nos davam um macacão especial,
luvas, meias, sapatos, óculos, um kit de 1os socorros e um medidor de radiação.
Para
sairmos, o processo era ainda mais complicado. Primeiro tínhamos que passar o
kit de 1os socorros e os óculos em uma maquininha, que media a radiação. Depois
passávamos por um escâner. Tirávamos o macacão, ficávamos só de cueca e passávamos
por um outro escâner. Por fim, depois de estarmos trocados de volta, para
sairmos do parque tínhamos que passar por um ultimo escâner.
O problema
foi que quando eu e o Pierre colocamos os nossos kits de 1os socorros na
maquininha, ela apitou. Quando eu olhei para o mostrador, que falava algo como:
“Material infectado” eu não pude acreditar. Eu não pensava em nada, e ao mesmo
tempo estava paralisado. Então, um dos técnicos falou com outro, e esse ultimo
disse que a maquina só deveria ler um kit por vez. Todos os kits são um pouco
contaminados, mas quando se colocam dois juntos, eles passam do valor aceitável.
Depois
desse sufoco deu para aproveitar o resto do passeio, que foi bem interessante. No
final do dia, estávamos esperando o outro grupo, e quando finalmente eles chegaram
e nos pensamos que poderíamos ir embora, um professor falou que um dos alunos
tinha sido contaminado, e que o pessoal da central nuclear estava falando com
ele.
Eles
detectaram a contaminação somente no ultimo escâner, antes de sair do parque.
Depois de quase 45 minutos de espera alguém vem falar que o pé dele é que
estava contaminado. Mais uma meia hora passa e falam que era o sapato. Depois
de mais um tempo, voltam e dizem que na verdade era uma das meias. Por fim,
depois de quase duas horas, eles coletaram a meia dele e deram um par novo, e
pudemos voltar para a Supélec. No entanto, por causa disso, eles iam lançar
todo um procedimento de busca, porque a meia dele foi infectada no vestiário, e
então eles vão procurar de onde veio o vazamento.
Depois de
tudo isso, após chegar em casa mais de meia noite, ainda tive que ficar
acordado quase até as 4 para acabar o relatório do EL. O gosto e alegria de que
a Supélec acabou é mais forte do que nunca, embora eu ainda tenha mais um relatório
de uma mineur (eletiva) para entregar até o fim da semana.
O fim de
semana eu passei preparando as malas e arrumando o quarto. Hoje a gente se reuniu
aqui na Supélec mesmo, já que amanhã de manhã eu viajo para Toulouse. Todos os
brasileiros da primeira promo, que chegaram na Supélec no meio de 2011 e ainda
moram em Gif acabaram indo, e até o Mauricio que mora em Rennes (não que ele
estivesse aqui especialmente para isso, mas enfim), sem contar mais um pessoal
que chegou depois.
Incrível
como passou rápido, e um dos momentos mais difíceis da minha vida acabou de
acabar. Lembro como se fosse ontem quando estava chegando na Supélec, e não
acreditava como isso realmente era longe de tudo. Mais incrível ainda é que
todos que estavam hoje naquela sala, eu não conhecia de verdade a 1 ano e meio atrás.
Hoje são simplesmente as pessoas que eu mais sou próximo, com quem eu falo nos
momentos de dificuldades, e que me ajudaram muito durante essa fase turbulenta,
durante esse 1 ano e meio que estão incrustados na minha memoria, com muito
suor, sofrimento, alegria e lagrimas.
Chegar em
casa no final da noite, ver tudo quase arrumado, uma ou outra coisa faltando
ainda para colocar na mala, e um mundo totalmente novo aberto ao meus pés. Eu
poderia estar falando de hoje, como de uma noite de julho de 2011, à quase
10.000km de distancia, em São Paulo.
Depois
daquela noite, muita coisa mudou. Agora eu sinto aquele frio na espinha,
mistura de medo e alegria para ver o que vai acontecer depois de hoje à noite.