domingo, 31 de março de 2013

Fim! - Au revoir Supélec


Depois das férias foi só correria. Tivemos uma apresentação de Mec Flu Numérique na terça, e na outra semana, duas provas, Ecoulements Compressibles, e Aerodynamique, que estavam bem difíceis. Finalmente sexta, dia 22 chegou. Mesmo tendo ainda uma semana de aula, o Cassez Vouz les 3A, a festa de despedida para o pessoal do terceiro ano, foi naquela sexta.

Já dava para sentir o gosto do fim da Supélec, estouramos uma champagne e fomos com tudo para a festa. A festa não estava lotada, e nem simpática. Todo o resto da Supélec estava na véspera da semana de provas, então ao invés de irem para a festa, tinham que ficar estudando. Mas mesmo assim a festa foi muito boa. Era a ultima festa na Supélec, podia estar vazia, mas o ambiente estava alegre, reflexo da sensação de liberdade que nos do 3 ano estávamos sentido. Eu e o Janailson ficamos até o final, até o Connemara.


Mas temos que lembrar que estávamos na Supélec. Uma semana de aula quer dizer muita coisa ainda. Aquele final de semana foi sem descanso. Na segunda de manhã prova oral de Identification, e de tarde apresentação do CEI (projeto parecido com um TCC). De novo senti o gosto da Supélec acabando, todas as provas já tinham acabado! Mas faltava o resto da semana, e embora a apresentação tenha sido na segunda, terça o dia e a noite inteira tivemos que ficar acabando o relatório do CEI. Na quarta fui de novo dormir tarde, para fazer o relatório de um EL (laboratório).

Na quinta, íamos visitar uma usina nuclear. A saída estava prevista para as 6, e o encontro seria as 5:45. Quando acordei e olho no relógio eu vejo: 5:44. Nunca corri tanto na vida. Cheguei um pouco atrasado, mas o ônibus ainda não estava lá.


Para chegar até a central nuclear de Chooz foram mais de 4 horas e meia de viagem. Quando chegamos lá, após uma apresentação nos separaram em dois grupos. Eu estava no que iria visitar primeiro Chooz A, uma usina desativada desde 1991, que esta em desconstrução. Por causa disso, pudemos entrar até a sala onde ficava o reator nuclear, existe um buraco gigante no chão.

Mas existe uma segurança muito forte. Para entrarmos na sala do reator, antes tivemos que passar por um vestiário, onde deixávamos toda a nossa roupa em um armário. Então, íamos só de cueca até uma outra sala onde eles nos davam um macacão especial, luvas, meias, sapatos, óculos, um kit de 1os socorros e um medidor de radiação.

Para sairmos, o processo era ainda mais complicado. Primeiro tínhamos que passar o kit de 1os socorros e os óculos em uma maquininha, que media a radiação. Depois passávamos por um escâner. Tirávamos o macacão, ficávamos só de cueca e passávamos por um outro escâner. Por fim, depois de estarmos trocados de volta, para sairmos do parque tínhamos que passar por um ultimo escâner.

O problema foi que quando eu e o Pierre colocamos os nossos kits de 1os socorros na maquininha, ela apitou. Quando eu olhei para o mostrador, que falava algo como: “Material infectado” eu não pude acreditar. Eu não pensava em nada, e ao mesmo tempo estava paralisado. Então, um dos técnicos falou com outro, e esse ultimo disse que a maquina só deveria ler um kit por vez. Todos os kits são um pouco contaminados, mas quando se colocam dois juntos, eles passam do valor aceitável.

Depois desse sufoco deu para aproveitar o resto do passeio, que foi bem interessante. No final do dia, estávamos esperando o outro grupo, e quando finalmente eles chegaram e nos pensamos que poderíamos ir embora, um professor falou que um dos alunos tinha sido contaminado, e que o pessoal da central nuclear estava falando com ele.

Eles detectaram a contaminação somente no ultimo escâner, antes de sair do parque. Depois de quase 45 minutos de espera alguém vem falar que o pé dele é que estava contaminado. Mais uma meia hora passa e falam que era o sapato. Depois de mais um tempo, voltam e dizem que na verdade era uma das meias. Por fim, depois de quase duas horas, eles coletaram a meia dele e deram um par novo, e pudemos voltar para a Supélec. No entanto, por causa disso, eles iam lançar todo um procedimento de busca, porque a meia dele foi infectada no vestiário, e então eles vão procurar de onde veio o vazamento.

Depois de tudo isso, após chegar em casa mais de meia noite, ainda tive que ficar acordado quase até as 4 para acabar o relatório do EL. O gosto e alegria de que a Supélec acabou é mais forte do que nunca, embora eu ainda tenha mais um relatório de uma mineur (eletiva) para entregar até o fim da semana.

O fim de semana eu passei preparando as malas e arrumando o quarto. Hoje a gente se reuniu aqui na Supélec mesmo, já que amanhã de manhã eu viajo para Toulouse. Todos os brasileiros da primeira promo, que chegaram na Supélec no meio de 2011 e ainda moram em Gif acabaram indo, e até o Mauricio que mora em Rennes (não que ele estivesse aqui especialmente para isso, mas enfim), sem contar mais um pessoal que chegou depois.

Incrível como passou rápido, e um dos momentos mais difíceis da minha vida acabou de acabar. Lembro como se fosse ontem quando estava chegando na Supélec, e não acreditava como isso realmente era longe de tudo. Mais incrível ainda é que todos que estavam hoje naquela sala, eu não conhecia de verdade a 1 ano e meio atrás. Hoje são simplesmente as pessoas que eu mais sou próximo, com quem eu falo nos momentos de dificuldades, e que me ajudaram muito durante essa fase turbulenta, durante esse 1 ano e meio que estão incrustados na minha memoria, com muito suor, sofrimento, alegria e lagrimas.

Chegar em casa no final da noite, ver tudo quase arrumado, uma ou outra coisa faltando ainda para colocar na mala, e um mundo totalmente novo aberto ao meus pés. Eu poderia estar falando de hoje, como de uma noite de julho de 2011, à quase 10.000km de distancia, em São Paulo.

Depois daquela noite, muita coisa mudou. Agora eu sinto aquele frio na espinha, mistura de medo e alegria para ver o que vai acontecer depois de hoje à noite. 

sexta-feira, 29 de março de 2013

Itália - Parte 2 - Roma e Vaticano


É verdade que o inicio da viagem foi corrido, mal ficávamos um dia em cada cidade. Mas se fizemos isso, foi porque queríamos passar o mais tempo possível em Roma, e essa foi uma escolha certa.

Chegamos em Roma, eu e o Fernando, quinta por volta da hora do almoço. Depois de deixarmos as coisas no hostel e almoçarmos a primeira coisa que fizemos foi dar uma rápida passada no Vaticano.  Depois, fomos até o Spanish Steps, uma escadaria que era o ponto de encontro de um free tour.

O guia nos mostrou varias coisas e nos contou varias historias incríveis de Roma, que mostram como o império romano era extremamente desenvolvido, muito mais do que em praticamente toda a idade média. No meio de algumas praças, existem obeliscos gigantes e em perfeito estado, que foram trazidos do Egito até lá, isso a muito tempo atrás, ainda na época do  império romano. As fontes, normalmente ficam em um níveo mais baixo, e elas não jorram agua para cima. Isso porque a agua que vai até elas vêm, mesmo hoje em dia, de aquedutos, os mesmos que foram construídos pelos romanos.

Durante o tour vimos também varias igrejas, uma com algumas esculturas de Bernini, outras com uma arquitetura mais renascentista. Passamos por um belo boulevar e fomos até o Pantheon. Olhando para o Pantheon, realmente eu o achei uma bela obra de arquitetura, mas o que me impressionou mesmo foi sua historia. Antigamente, ele, como o Coliseu, era totalmente coberto de mármore, que foi pilhado quando o império romano caiu. No entanto, o interior do Pantheon ainda é muito bonito. Mas o mais incrível é o seu domo, que além de ser enorme, é perfeitamente simétrico com o interior. O domo é tão grande e a tecnologia que eles tinham era tão avançada que 1500 anos mais tarde, quando Michelangelo projetou a Basílica de São Pedro, ele criou um domo menor porque eles não eram capazes de construir um tão grande como o do Pantheon. E mesmo antigamente tendo sido uma construção pagã, hoje ele é um prédio cristão, e lá esta a tumba do artista renascentista Raphael.

O tour acabou na Fontana de Trevi, que é muito bonita.









No outro dia, fomos de novo até o Vaticano. Naqueles dias o conclave para escolher o novo Papa ainda não tinha começado, mas eles já tinham fechado a Capela Sistina para preparação. De toda forma, só a praça São Pedro já é muito bonita, e o interior da Basílica então é espetacular.

A Basílica de São Pedro é grande, e com muitos ornamentos, mas são varias coisas que fazem dela um lugar marcante. Logo perto da entrada fica a Pieta, de Michelangelo. A beleza e a perfeição da obra é tanta que chegam a emocionar. A famosa estatua de São Pedro também esta ali na Basílica, e em uma das capelas esta a tumba de João Paulo II.

Uma pequena escada leva para um nível inferior, onde estão as tumbas de vários Papas.

Subimos também até o terraço. A vista de lá é muito bonita. Da para ver a praça de um ângulo muito legal, e embora ela estivesse um pouco movimentada, era estranho pensar que em apenas alguns dias ela estaria completamente repleta de pessoas esperando o anuncio do novo Papa.


 




Depois, fomos para o Coliseu. Para falar a verdade no inicio me decepcionei um pouco. Esperava algo muito maior, e muito mais bonito. O Coliseu de hoje é apenas uma sombra do majestoso circo de espetáculo construído a 2000 anos atrás. O interior, antigamente com todas as arquibancadas de mármore, não esta tão conservado. A fachada apresenta vários buracos, representando os lugares onde as enormes placas de mármore eram presas. Uma coisa foi que o Coliseu aumentou ainda mais a minha admiração pelo império romano.



Antes de voltarmos para o hostel passamos em mais uma igreja. O numero de igrejas importantes em Roma é absurdamente alto, e o interior de muitas delas é de tirar o folego.

Aquela noite fomos para um pub crawl, o Spanish Steps Pub Crawl. A propaganda que fizeram foi muito boa, mas o inicio da noite não estava nada prometedor. Estávamos em um bar não muito grande, e bem vazio. Mas isso acabou sendo bom, acabamos nos enturmando muito fácil com o resto do pessoal que estava no pub crawl, e o resto da noite acabou sendo bem divertida, mesmo que estivesse chovendo quando fomos do segundo pub até a balada, e o nosso guia ficasse nos enganando todo o tempo falando que tínhamos que sair do bar ou que já estávamos chegando na balada.


Mas, sábado de manhã, voltamos mais uma vez para o Vaticano, dessa vez para fazer uma visita guiada diferente, dica de um brasileiro que conhecemos em Firenze. Em um grupo pequeno, com uma guia muito boa, conhecemos a necrópole que fica embaixo da Basílica de São Pedro, e que foi descoberta apenas no inicio do século XX. Durante todo o trajeto, cada historia que ela contava conseguia superar ainda mais a historia anterior, e se completavam de uma forma perfeita. Não tem palavras para descrever o que vimos. As antigas casas, um mosaico, e no final, o tumulo de São Pedro, bem embaixo do altar da basílica. Foi não apenas o tour, ou a visita mais interessante que eu já fiz, mas o meu momento mais marcante na Europa até hoje.

De tarde, fomos conhecer o antigo Fórum Romano, que infelizmente hoje esta em ruinas. Demos uma grande volta para conseguir ver La Bocca della Verità, e o monumento a Victor-Emanuel II.



No domingo ainda passamos no Castelo Sant’Angelo e tomamos um ultimo sorvete em uma ótima gelateria. De noite, todos os aviões estavam atrasados por causa do mau tempo, e fomos chegar na Supélec quase a meia-noite.

Estava bem feliz, a Itália me surpreendeu bastante positivamente. Foi muito legal ver ao vivo e mesmo poder tocar em varias das coisas que ouvia desde pequeno nas aulas de historia. No entanto, foi só pisar na Supélec pra tomar um tapa na cara de realidade. E um bem forte. Tinha um trabalho para apresentar na terça, e tive que ficar acordado até às 5 horas da manhã de domingo, porque senão seria impossível acabar na segunda. Ótimo jeito de lembrar que estava em casa, mas felizmente já estava dando para ver a luz no fim do túnel.

terça-feira, 26 de março de 2013

Itália - Parte 1


Como durante uma grande parte desse terceiro ano, eu estava bem cansado por causa de todas as tarefas intermináveis que tínhamos que fazer. Mas, finalmente, eram férias! Sexta, 1 de março, inicio de uma semana de férias, eu e o Fernando fomos para o aeroporto de Orly, dormimos por lá, e sábado de manhã pegamos o voo para a Itália.


Primeira parada, Veneza. O aeroporto não fica exatamente na cidade. Uma coisa que eu não sabia era que Veneza é uma ilha. E como no imaginário popular, ela é repleta de pequenos canais e de ruelas estreitas, tanto que praticamente não passam carros na cidade. Como o Carnaval tinha sido a não muito tempo atrás, andando pelas ruas nos deparávamos a todo o instante com diversas lojas que vendiam todos os tipos de mascaras.

Veneza é muito bonita. A ponte Rialto sobre o Canal Grande, a Praça de São Marco, bem ampla, e a basílica à sua frente, que não é muito grande, mas é repleta de detalhes, principalmente a parte de dentro, com um teto dourado. Outra coisa que vale a pena visitar é o Palazzo Ducale. No inicio, não estava achando ele nem um pouco interessante, algumas colunas para um lado e para o outro. Mas à medida que fomos subindo, atingimos as antigas salas responsáveis por abrigar toda a parte administrativa/politica de quando Veneza era capital. A Sala do Conselho dos Dez, a Sala do Senado, e varias outras faziam lembrar Versailles, com tetos altos repletos de lindas pinturas e vários ornamentos.








Esperando para pegar o trem, comemos uma pizza, que é vendida por fatia. Esse tipo de refeição foi comum na viagem, na verdade, acho que acabamos comendo pelo menos um pedaço de pizza todo dia, que claro, na Itália é muito boa.

Pegamos o trem e fomos para Milão. Chegamos de noite, deixamos as coisas no hostel, e saímos para comer outro pedaço de pizza. Milão pareceu bem agitado de noite. No outro dia, domingo, fomos primeiro até o Duomo. Realmente, ele é de uma beleza única, e é bem legal que é possível subir no terraço, de onde se da para ter uma bela vista da cidade e ver mais de perto os detalhes dessa bela construção.

Ficamos um pouco ali na praça. Fomos enganados, esperando um freetour que acabou não acontecendo, e então passamos pela Galleria Vittorio Emanuele II, um boulevard bem bonito, coberto, cheio de lojas de grife, para chegarmos até La Scalle, uma das operas mais importantes do mundo. Chegamos 5 minutos antes dela fechar e conseguimos ve-la por dentro. É bem bonito, mais é impossível competir com o Palácio Garnier.





 Fomos então até o Palácio Sforzesco. Ele é grande, bem bonito, e uma das salas tem um teto pintado por Da Vinci. Na parte de trás, fica um grande parque, com um pequeno arco do triunfo ao fundo, herança da época que Napoleão passou por ali.


De noite, depois de comer uma pizza, fomos de trem à Firenze (Florença).

Segunda logo pela manhã, fizemos um freetour, que foi focado sobre a parte Renascentista de Florença. Muitos artistas famosos passaram por lá, e varias igrejas e casas foram construídas sobre essa influencia. Descobrimos também que o sorvete foi inventado em Firenze, e em uma sorveteria experimentamos um sorvete, de creme, que dizem ter o mesmo sabor do primeiro sorvete inventado. A partir desse momento passamos a comer bastante sorvete também, ainda mais que na Itália estava um pouco mais quente do que na França. Ficamos sabendo também que antes de Roma, por certo tempo Firenze foi a capital da Itália.

De tarde, com outro freetour conhecemos a Casa dos Medici, uma das famílias mais importantes que morou e comandou Firenze, e a igreja construída para eles. Os pequenos ornamentos que existem na janela da casa foram criados por Michelangelo. Foram os primeiros desse tipo e se popularizaram e espalharam pelo mundo. Vimos também o Duomo, que também é muito bonito, e a porta de ouro que fica na sua frente; o Palazzo Vechio, sede do governo, e a Ponte Vechia; e a Basilica di San Miniato al Monte, que fica em cima de uma colina, e de onde se tem uma vista espetacular da cidade.






No outro dia de manhã pegamos um trem regional e fomos para Pisa. Vimos a famosa torre, tiramos fotos como todos os turistas que vão para lá, e até chegamos a olhar o que chamamos da igreja mais menosprezada do mundo, o duomo que fica bem em frente a torre.


No inicio da tarde já estávamos de volta a Firenze. Fomos até o museu onde esta o David, a famosa obra de Michelangelo. Ele é imenso, com 5 metros de altura, e os detalhes são tão incríveis que é possível ver as veias das mãos. Isso porque Michelangelo usou um pedaço de mármore que dois outros artesões tinham tentado usar, mas tinham dito que era muito ruim. Passamos também no Uffizi, museu referencia em arte renascentista.

De noite, pegamos um trem e fomos para Nápoles. O trem atrasou. E o problema é que íamos chegar tarde em Nápoles, a recepção do hostel que iriamos ficar funcionava só até a meia-noite, e o hostel não era perto da estação de trem.

Na verdade, isso acabou sendo bom. Tivemos que ligar pro hostel, e nos disseram que iam mandar um taxi nos pegar. Acontece que não sabíamos, mas a parte perto da estação de trem é meio perigosa. O hostel também não era fácil de achar. Estavamos numa ruela estreita, numa ladeira, quando o taxista para o carro. Pensei que ele tinha parado porque estava falando no celular, mas ele para de falar e desce no carro, nos ajuda a tirar as mochilas do porta-malas, e vai embora. O lugar parecia mais suspeita do que a rua que ficava o hostel de Marrakesh, e eu comecei a achar bem estranho. Estávamos na frente de um prédio residencial, sem nenhuma placa falando nada sobre hostel, nem aquelas famosas plaquinhas do hostelworld.

Ligamos de novo para o hostel, um senhor aparece na varando de um dos apartamentos, e abre a porta para a gente entrar no prédio. O hostel é na verdade a casa do Giovanni, um simpático senhor de uns 60 anos. Mesmo estando tarde, depois de nos recepcionar, ele perguntou se queríamos algumas informações sobre Nápoles. Como falamos que sim, ele começou a nos contar a historia da cidade, coisas interessantes para ver, e lugares para visitarmos. Ele falou por quase duas horas, e só parou porque estava ficando bem tarde. Ele falava com tanta alegria que na hora a vontade que tínhamos era abandonar o resto da viagem e ficar por lá, opinião que mudaríamos logo no próximo dia.

No entanto, uma coisa que ele também falou é que era para tomar cuidado, que a cidade era meio perigosa. Quando ele falou sobre a máfia, eu me lembrei do taxista que pegamos, e como a voz dele era rouca e o sotaque era incrivelmente parecido com vários dos personagens do Poderoso Chefão.

Logo de manhã, fomos até a estação pegar um trem para Pompeia. Essa era a principal razão de termos ido até Nápoles. O cara do guichê nos falou que a Circumvesuviano estava fechada, mas que poderíamos pegar um trem normal até Pompeia. Compramos o bilhete, e foi difícil achar de onde saia o trem, porque a plataforma era a mesma utilizada pelo metro, algo bem estranho.

Paramos primeiro em Erculano, uma cidade no caminho, de onde saiam excursões para o Vesúvio. No entanto, as excursões saiam da estação por onde passa normalmente o Circumvesuviano, e ela fica a 40 minutos de caminhada da estação de trem normal, que foi onde descemos. Quando finalmente chegamos, não tinha ninguém lá, e queriam nos cobrar o dobro para fazermos a excursão apenas nos dois. O tempo ruim nos ajudou a decidir, voltamos pelo caminho que viemos, e pegamos o próximo trem para Pompeia.

Quando chegamos a Pompeia, estava chovendo muito, mas felizmente parou de chover logo depois do almoço.

Pompeia é incrível, chegamos pouco depois do meio dia e ficamos até às 17h, quando fecham. As ruinas estão praticamente inteiras, mesmo depois de quase 2000 anos, e da para caminhar por praticamente toda a cidade. De todos os lugares paira a sombra do Vesúvio, grande e ameaçador ao fundo. A cidade era até que bem grande. Logo na entrada da para ver uma das muralhas e o local onde ficava o portão. Nos templos ainda se vê os altares e as colunas. É possível ver as casas, algumas com as janelas e outras até com afrescos. A padaria ainda tem um fogão a lenha, e outras coisas usadas para culinária. E em um lugar se pode ver um dos habitantes que foi soterrado pela lava.

O teatro e o anfiteatro também estão de pé.





Na volta para Nápoles, uma constante daquela cidade, o trem atrasou de novo, e bastante, mas chegamos a tempo do jantar. O Giovanni preparou uma macarronada, e sentamos todos, umas 10 pessoas, em volta de uma mesa para jantarmos. Depois, ficamos conversando até tarde. Embora Nápoles não parecesse ser uma cidade tão boa, aquele hostel era espetacular.

No outro dia, quinta bem cedo, fomos até a estação de trem. Os trens estavam mais uma vez atrasados, mas finalmente estávamos indo para o berço da civilização ocidental, Roma.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Lama


Era uma sexta-feira perdida no meio de janeiro, em pleno inverno, e desde o inicio da tarde já nevava. Flocos de neve ficaram caindo a noite inteira, tanto que no meio da madrugada aproveitamos para fazer um boneco de neve. A noite estava divertida, mesmo que na verdade estávamos apenas matando o tempo, porque lá pelas 4 da manhã, íamos levar o Café no aeroporto de Orly, e ao invés de acordar bem cedo, resolvemos ir dormir bem tarde.

Mesmo que estivesse muito frio, como era apenas entrar no carro, ir até o aeroporto e voltar, acabei não pegando nem luva, nem cachecol nem gorro, coisa que eu me arrependeria mais tarde.

Foi divertido dirigir na neve. O carro deslizava a cada pequena curva, e por isso estava indo bem devagar. As autoestradas, no entanto, eram algo incrível; elas estavam completamente limpas, mesmo com o tanto de neve que tinha em todo o canto.

Mas um pouco depois de entrar na estrada começamos a ouvir um barulho estranho, e um pouco mais pra frente comecei a sentir o carro puxar. Era um pneu furado. O acostamento era bem estreito, então parei numa faixa que era o inicio de uma saída da estrada.

Como naquela faixa não passavam muitos carros, ela ainda estava praticamente coberta de neve. Assim que desço do carro, percebo que a neve era na verdade uns 4 dedos de uma neve com água, que formavam uma espécie de lama.

As 4 e meia da manhã, naquele acostamento, estava muito frio. E era quase impossível mexer em qualquer um dos equipamentos, fosse para tirar a roda, fosse para levantar o carro. Por causa do frio os dedos da mão estavam muito duros. Felizmente, em 5 minutos apareceu uma caminhonete de serviços da autoestrada, eles nos ajudaram a trocar o pneu, e conseguimos chegar mais do que a tempo do Café pegar o voo dele.

---

No terceiro ano da Supélec, temos na nossa grade horaria uma semana de seminário. Foi a semana do dia 12 de fevereiro, e tínhamos duas escolhas, ir para um estagio de leadership na Escola Naval de Brest, ou fazer um business game na Supélec. Eu escolhi a Escola Naval, e acabei dando sorte de conseguir ir, porque o numero de inscritos foi bem maior que o numero de vagas, então eles tiraram na sorte quem iria.

Saímos de Paris na terça de manhã, e por causa de uma queda de barreira, fizemos o resto do trajeto até Brest de ônibus. Chegamos um pouco mais tarde do que o previsto, e pegamos um ônibus para ir até a Escola Naval. E andamos. A Escola Naval não fica na verdade exatamente em Brest.

Quando estávamos em uma estradinha, no meio de um campo, o ônibus para, e alguns militares da Escola Naval entram. Um deles pergunta se estávamos todos com roupas de esporte, e como respondemos que não, ele fala para nos trocarmos, e começa a dar instruções de onde deixar as mochilas, e para deixarmos celulares, carteiras e relógios. Alguém no fundo do ônibus faz uma piadinha, e ele responde:

-Como eu disse, quando estiverem andando, não coloquem a mão no bolso, mas guardem o sorriso no bolso. Vocês estão em uma escola militar, nada mais é motivo de risada. E vocês tem 5 minutos.

Fomos separados em dois grupos, ele nos da um mapa e uma bussola:

-Vocês estão aqui, vocês têm que passar por esse ponto, e a Escola Naval é aqui. Vocês não têm direito de usar estradas.

Como estávamos na Bretanha, embora não estivesse chovendo, tudo estava molhado porque tinha chovido provavelmente no dia anterior. Por onde passávamos estava cheio de lama, tanto que uma hora, quando estávamos andando em um campo, o meu tênis ficou preso na lama e eu quase fiquei andando descalço.

Depois de duas horas de caminhada, nas quais passamos pelo meio de umas florestas, e tivemos que atravessar vários riozinhos, chegamos à Escola Naval.



 Encontramos o outro grupo da Supélec, e mais dois grupos da Centrales Nantes. Um dos instrutores da Naval fala que nas próximas atividades o tempo de conclusão ia ser importante, e que ele ia determinar onde íamos dormir naquela noite: primeiro lugar em um hangar, segundo em uma tenda, terceiro em umas barracas, e o ultimo grupo ia ter que procurar algum lugar ao ar livre.

Primeiro, tivemos que construir um pequeno barco. Era meio complicado, mas a parte difícil foi levar ele até o mar, porque o barco era bem pesado. Depois, tínhamos que ir de barco até um ponto e voltar. Acabamos ficando em terceiro. No final, ainda tínhamos que lavar os barcos e guardar tudo de volta.

Para jantar, eles distribuíram uma caixa de ração, que deveria durar 24 horas (o que quer dizer que ela foi o nosso almoço do outro dia também). Exatamente o mesmo kit que o pessoal recebe no exercito durante as guerras, e os franceses que estão agora em Mali só comem isso. A comida não tinha uma cara muito boa, mas com a fome que estávamos, comemos bem rápido.

O problema, é que estávamos de shorts, completamente sujos, já estava escuro fazia muito tempo, e como tínhamos entrado no mar, na hora da travessia, a meia e o tênis estavam encharcados. Tudo isso junto fazia com que ficássemos com muito frio.

Então um dos instrutores pergunta se estávamos com frio, alguém responde que sim, e ele, para nos aquecer, nos faz correr. Quando chegamos na frente de um prédio, a gente para e ele diz:

-Eu falei para vocês não colocarem a mão no bolso. Vocês devem estar com muito frio nas mãos então. Para esquentar as mãos, vamos fazer algumas flexões.

E fizemos flexões, ali no meio do asfalto.

Então, entramos num prédio, fomos à um anfiteatro, e um outro militar, um pouco mais velho e mais condecorado, nos recebe. Primeiro alivio: ele logo nos diz que não precisaríamos dormir no meio da floresta. Depois ele explica que como tudo aquilo que a gente passou realmente era para baixar a nossa moral, e para mostrar que como sempre temos que nos preparar para as piores situações. Mas de qualquer forma, por todo o resto da semana tivemos que fazer flexões todo o tempo, fosse porque alguém estava um pouco atrasado, ou porque alguém estivesse com as mãos no bolso.

Fomos dormir era mais de uma da manhã, completamente acabados, e no outro dia, tínhamos que acordar o mais tardar as sete, para tomarmos café e irmos ver o hasteamento da bandeira.

Na quarta-feira o dia inteiro, e na quinta de manhã tivemos ateliês. Estávamos separados em grupos de oito, e em cada ateliê uma pessoa do grupo era o líder. O instrutor da Naval dizia para o líder qual era a missão e o equipamento disponível, e o líder tinha que gerenciar a equipe para cumpri-la.

As missões eram todas do lado de fora, no meio da floresta. Tínhamos que fazer coisas como construir uma ponte, subir um container por uma cascata, ... Quando eu fui líder, por exemplo, a missão era pegar água de um poço que ficava no meio de uma clareira, mas em volta do posso existia um circulo de 10 metros de diâmetro onde a gente considerava que estava minado e ninguém podia entrar.

Voltávamos para casa completamente sujos, cobertos de lama, mas eles tinham nos emprestados uniformes do exercito para fazer os ateliês.


Quarta de noite fomos visitar uma fragata, e quinta de tarde tivemos algumas palestras sobre liderança que foram bem interessante. À noite víamos pedaços de filmes e fazíamos discussões sobre os tipos de liderança que podíamos ver dos personagens e se eles eram adequados ou não.

Sexta de manhã fizemos o caminho do combatente, que são uma serie de obstáculos, como subir em muros de 2 metros de altura e passar por barreiras, e depois tivemos uma atividade na piscina.



Saímos da Escola Naval logo depois do almoço de sexta, completamente cansados, e com o corpo bem dolorido das milhares de atividades que fizemos. Mas essa foi uma semana incrível, completamente diferente do que eu imaginava que seria, mas sensacional.

---

Realmente faz muito tempo que eu não escrevo aqui, esse post esta ficando gigante, mas teve uma coisa que me deixou revoltado esses dias.

Primeira aula de Aerodinâmica, que faz parte do master, e foi na Centrale. Logo no inicio o professor falou que ia fazer uma pequena introdução histórica, para nos melhor situar e ver como foi a evolução do avião.

Ele começa falando sobre um francês, que criou teoricamente o primeiro avião em 1890, mas não se tem nenhuma prova que ele voava. Apenas algumas pessoas estavam no dia em que ele testou a maquina, e ela levantava muito pouco do chão, por distancias bem curtas.

Em seguida, o professor falou sobre os irmãos Wright, que criaram um avião. Ele ficou comentando sobre as diferenças na concepção e da posição das assas daquele avião para os de hoje em dia.

E depois, ele começou a falar sobre outra coisa.

No final da aula, eu fui conversar com alguns amigos franceses meus, e perguntei quem eles consideravam que era o criador do avião. Um deles começou a falar que ele considerava que o voo do francês não tinha sido bem documentado, que não dava para saber se ele realmente voava ou eram simplesmente desníveis do relevo e essas coisas.

Eu interrompo ele perguntando:

-E Saintos Dumont, um brasileiro, vocês nunca ouviram falar dele.

Nisso, um outro ainda faz uma piadinha:

-Você não vai dizer agora que um brasileiro criou o primeiro avião.

Enfim, fiquei surpreso que nenhum dos dois conhecessem Santos Dumont, ainda mais que ele fez grande parte dos experimentos dele aqui na França.