Era uma
sexta-feira perdida no meio de janeiro, em pleno inverno, e desde o inicio da
tarde já nevava. Flocos de neve ficaram caindo a noite inteira, tanto que no
meio da madrugada aproveitamos para fazer um boneco de neve. A noite estava
divertida, mesmo que na verdade estávamos apenas matando o tempo, porque lá
pelas 4 da manhã, íamos levar o Café no aeroporto de Orly, e ao invés de
acordar bem cedo, resolvemos ir dormir bem tarde.
Mesmo que
estivesse muito frio, como era apenas entrar no carro, ir até o aeroporto e
voltar, acabei não pegando nem luva, nem cachecol nem gorro, coisa que eu me
arrependeria mais tarde.
Foi
divertido dirigir na neve. O carro deslizava a cada pequena curva, e por isso
estava indo bem devagar. As autoestradas, no entanto, eram algo incrível; elas
estavam completamente limpas, mesmo com o tanto de neve que tinha em todo o
canto.
Mas um
pouco depois de entrar na estrada começamos a ouvir um barulho estranho, e um
pouco mais pra frente comecei a sentir o carro puxar. Era um pneu furado. O
acostamento era bem estreito, então parei numa faixa que era o inicio de uma
saída da estrada.
Como
naquela faixa não passavam muitos carros, ela ainda estava praticamente coberta
de neve. Assim que desço do carro, percebo que a neve era na verdade uns 4
dedos de uma neve com água, que formavam uma espécie de lama.
As 4 e meia
da manhã, naquele acostamento, estava muito frio. E era quase impossível mexer
em qualquer um dos equipamentos, fosse para tirar a roda, fosse para levantar o
carro. Por causa do frio os dedos da mão estavam muito duros. Felizmente, em 5
minutos apareceu uma caminhonete de serviços da autoestrada, eles nos ajudaram
a trocar o pneu, e conseguimos chegar mais do que a tempo do Café pegar o voo
dele.
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No terceiro
ano da Supélec, temos na nossa grade horaria uma semana de seminário. Foi a
semana do dia 12 de fevereiro, e tínhamos duas escolhas, ir para um estagio de
leadership na Escola Naval de Brest, ou fazer um business game na Supélec. Eu
escolhi a Escola Naval, e acabei dando sorte de conseguir ir, porque o numero
de inscritos foi bem maior que o numero de vagas, então eles tiraram na sorte
quem iria.
Saímos de
Paris na terça de manhã, e por causa de uma queda de barreira, fizemos o resto
do trajeto até Brest de ônibus. Chegamos um pouco mais tarde do que o previsto,
e pegamos um ônibus para ir até a Escola Naval. E andamos. A Escola Naval não
fica na verdade exatamente em Brest.
Quando
estávamos em uma estradinha, no meio de um campo, o ônibus para, e alguns
militares da Escola Naval entram. Um deles pergunta se estávamos todos com
roupas de esporte, e como respondemos que não, ele fala para nos trocarmos, e
começa a dar instruções de onde deixar as mochilas, e para deixarmos celulares,
carteiras e relógios. Alguém no fundo do ônibus faz uma piadinha, e ele
responde:
-Como eu
disse, quando estiverem andando, não coloquem a mão no bolso, mas guardem o
sorriso no bolso. Vocês estão em uma escola militar, nada mais é motivo de
risada. E vocês tem 5 minutos.
Fomos
separados em dois grupos, ele nos da um mapa e uma bussola:
-Vocês
estão aqui, vocês têm que passar por esse ponto, e a Escola Naval é aqui. Vocês
não têm direito de usar estradas.
Como
estávamos na Bretanha, embora não estivesse chovendo, tudo estava molhado
porque tinha chovido provavelmente no dia anterior. Por onde passávamos estava
cheio de lama, tanto que uma hora, quando estávamos andando em um campo, o meu
tênis ficou preso na lama e eu quase fiquei andando descalço.
Depois de
duas horas de caminhada, nas quais passamos pelo meio de umas florestas, e
tivemos que atravessar vários riozinhos, chegamos à Escola Naval.
Encontramos
o outro grupo da Supélec, e mais dois grupos da Centrales Nantes. Um dos
instrutores da Naval fala que nas próximas atividades o tempo de conclusão ia
ser importante, e que ele ia determinar onde íamos dormir naquela noite:
primeiro lugar em um hangar, segundo em uma tenda, terceiro em umas barracas, e
o ultimo grupo ia ter que procurar algum lugar ao ar livre.
Primeiro,
tivemos que construir um pequeno barco. Era meio complicado, mas a parte
difícil foi levar ele até o mar, porque o barco era bem pesado. Depois,
tínhamos que ir de barco até um ponto e voltar. Acabamos ficando em terceiro.
No final, ainda tínhamos que lavar os barcos e guardar tudo de volta.
Para
jantar, eles distribuíram uma caixa de ração, que deveria durar 24 horas (o que
quer dizer que ela foi o nosso almoço do outro dia também). Exatamente o mesmo
kit que o pessoal recebe no exercito durante as guerras, e os franceses que
estão agora em Mali só comem isso. A comida não tinha uma cara muito boa, mas
com a fome que estávamos, comemos bem rápido.
O problema,
é que estávamos de shorts, completamente sujos, já estava escuro fazia muito
tempo, e como tínhamos entrado no mar, na hora da travessia, a meia e o tênis estavam
encharcados. Tudo isso junto fazia com que ficássemos com muito frio.
Então um
dos instrutores pergunta se estávamos com frio, alguém responde que sim, e ele,
para nos aquecer, nos faz correr. Quando chegamos na frente de um prédio, a gente
para e ele diz:
-Eu falei
para vocês não colocarem a mão no bolso. Vocês devem estar com muito frio nas
mãos então. Para esquentar as mãos, vamos fazer algumas flexões.
E fizemos
flexões, ali no meio do asfalto.
Então, entramos
num prédio, fomos à um anfiteatro, e um outro militar, um pouco mais velho e
mais condecorado, nos recebe. Primeiro alivio: ele logo nos diz que não precisaríamos
dormir no meio da floresta. Depois ele explica que como tudo aquilo que a gente
passou realmente era para baixar a nossa moral, e para mostrar que como sempre
temos que nos preparar para as piores situações. Mas de qualquer forma, por
todo o resto da semana tivemos que fazer flexões todo o tempo, fosse porque alguém
estava um pouco atrasado, ou porque alguém estivesse com as mãos no bolso.
Fomos
dormir era mais de uma da manhã, completamente acabados, e no outro dia, tínhamos
que acordar o mais tardar as sete, para tomarmos café e irmos ver o hasteamento
da bandeira.
Na
quarta-feira o dia inteiro, e na quinta de manhã tivemos ateliês. Estávamos
separados em grupos de oito, e em cada ateliê uma pessoa do grupo era o líder.
O instrutor da Naval dizia para o líder qual era a missão e o equipamento disponível,
e o líder tinha que gerenciar a equipe para cumpri-la.
As missões
eram todas do lado de fora, no meio da floresta. Tínhamos que fazer coisas como
construir uma ponte, subir um container por uma cascata, ... Quando eu fui líder,
por exemplo, a missão era pegar água de um poço que ficava no meio de uma
clareira, mas em volta do posso existia um circulo de 10 metros de diâmetro onde
a gente considerava que estava minado e ninguém podia entrar.
Voltávamos
para casa completamente sujos, cobertos de lama, mas eles tinham nos
emprestados uniformes do exercito para fazer os ateliês.
Quarta de noite
fomos visitar uma fragata, e quinta de tarde tivemos algumas palestras sobre
liderança que foram bem interessante. À noite víamos pedaços de filmes e fazíamos
discussões sobre os tipos de liderança que podíamos ver dos personagens e se
eles eram adequados ou não.
Sexta de
manhã fizemos o caminho do combatente, que são uma serie de obstáculos, como
subir em muros de 2 metros de altura e passar por barreiras, e depois tivemos
uma atividade na piscina.
Saímos da
Escola Naval logo depois do almoço de sexta, completamente cansados, e com o
corpo bem dolorido das milhares de atividades que fizemos. Mas essa foi uma
semana incrível, completamente diferente do que eu imaginava que seria, mas sensacional.
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Realmente
faz muito tempo que eu não escrevo aqui, esse post esta ficando gigante, mas
teve uma coisa que me deixou revoltado esses dias.
Primeira
aula de Aerodinâmica, que faz parte do master, e foi na Centrale. Logo no
inicio o professor falou que ia fazer uma pequena introdução histórica, para
nos melhor situar e ver como foi a evolução do avião.
Ele começa
falando sobre um francês, que criou teoricamente o primeiro avião em 1890, mas
não se tem nenhuma prova que ele voava. Apenas algumas pessoas estavam no dia
em que ele testou a maquina, e ela levantava muito pouco do chão, por distancias
bem curtas.
Em seguida,
o professor falou sobre os irmãos Wright, que criaram um avião. Ele ficou
comentando sobre as diferenças na concepção e da posição das assas daquele
avião para os de hoje em dia.
E depois,
ele começou a falar sobre outra coisa.
No final da
aula, eu fui conversar com alguns amigos franceses meus, e perguntei quem eles consideravam
que era o criador do avião. Um deles começou a falar que ele considerava que o
voo do francês não tinha sido bem documentado, que não dava para saber se ele
realmente voava ou eram simplesmente desníveis do relevo e essas coisas.
Eu
interrompo ele perguntando:
-E Saintos
Dumont, um brasileiro, vocês nunca ouviram falar dele.
Nisso, um
outro ainda faz uma piadinha:
-Você não
vai dizer agora que um brasileiro criou o primeiro avião.
Enfim,
fiquei surpreso que nenhum dos dois conhecessem Santos Dumont, ainda mais que
ele fez grande parte dos experimentos dele aqui na França.
Ainda bem que eu só fico sabendo dessas histórias bemmm depois...rs
ResponderExcluirMas essas vivências ficarão guardadas sempre... e como contribuem para o seu crescimento!
Continue aproveitando essa espetacular oportunidade!
Beijos
Suleima